Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 02, 2007

Os seres vivos que sobrevivem por séculos

Espécies que desafiam
os séculos

A descoberta do animal mais velho do mundo
pode ajudar a ciência a entender a longevidade


Vanessa Vieira e Roberta de Abreu Lima

Este molusco viveu
410
anos

Divulgação BBC
Quando ele era jovem...
...Miguel de Cervantes publicou Dom Quixote
...os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro
...os ingleses estabeleceram sua primeira colônia na América do Norte

Uma das grandes ambições do ser humano é encontrar meios de prolongar a vida. Não é à toa que o mito da imortalidade, em matizes diversos, permeia todas as religiões. A aspiração à vida longa aguça-se ainda mais diante da constatação de que várias espécies, da flora e da fauna, são capazes de viver por vários séculos. A descoberta de um grupo de cientistas da Universidade Bangor, do País de Gales, divulgada na semana passada, pode trazer novas pistas para explicar os segredos da longevidade. Eles encontraram no fundo do Atlântico Norte, próximo à costa da Islândia, o animal mais velho de que se tem notícia: uma concha do tipo Quahog, com mais de 400 anos. A idade do molusco foi determinada com base na contagem dos anéis de crescimento que se formam na concha periodicamente. Para se ter uma idéia de quanto o molusco viveu, basta pensar que, quando ele veio ao mundo, William Shakespeare escrevia suas obras mais famosas, como Otelo e Macbeth, e o Brasil havia sido descoberto apenas 100 anos antes. Afinal, por que existe uma diferença tão grande entre o tempo de vida das espécies? Porque cada uma envelhece a um ritmo próprio.

Andre Penner
Este jequitibá-rosa do Parque Estadual de Vassununga, em São Paulo, é considerado a árvore mais antiga do Brasil.
Sua idade é estimada em
3 030 anos


O envelhecimento, segundo a consagrada teoria do pesquisador Leonard Hayflick, elaborada nos anos 60, é um conjunto de processos mecânicos que acontecem dentro e ao redor das células. Um ser vivo permanece saudável enquanto suas células têm o poder de se dividir e, assim, se renovar. A quantidade de vezes que as células podem se dividir é programada geneticamente. Mesmo que um dia a medicina seja capaz de curar todos os males que acometem os seres humanos na velhice, dificilmente alguém conseguiria passar dos 120 anos – esse é considerado o limite biológico de nossa longevidade. Além da influência do fator genético, a longevidade de cada espécie também está relacionada à intensidade com que ela se alimenta e gasta sua energia. Quanto mais intenso o metabolismo de um ser vivo, mais curta tende a ser sua vida. Para bater as asas a um ritmo de até noventa vezes por segundo, o beija-flor precisa consumir mais de 6.000 calorias por dia, o equivalente a oito vezes o peso do seu corpo. Tanta atividade tem um preço. Algumas espécies de beija-flor vivem, em média, dois anos, contra vinte de um canário e até oitenta de um papagaio. Já a gigantesca baleia fin pode viver cerca de 100 anos porque, proporcionalmente, não gasta tantas calorias. "As reações químicas por meio das quais o organismo sintetiza energia também produzem radicais livres, que provocam a oxidação celular e, por conseqüência, o envelhecimento do corpo", explica o biólogo Carlos Navas, da Universidade de São Paulo.

Os seres mais primitivos, unicelulares, não envelhecem. Desde que não sofram a interferência de fatores externos, como a falta de alimento, a desidratação ou a ação de predadores, podem viver indefinidamente. Essa característica assegura a sobrevivência de seus genes. Com a evolução e o surgimento dos seres pluricelulares, a transmissão dos genes começou a ser feita por meio da reprodução sexuada. A partir daí, os seres vivos passaram a envelhecer. No estágio atual da evolução, o organismo dos animais só se preserva saudável até o período em que eles são capazes de se reproduzir. Depois disso, suas células começam a perder a capacidade de renovação. No reino vegetal, a capacidade de renovação das células pode se estender por milhares de anos. Na região de Sierra Nevada, na Califórnia, o pinheiro batizado de Matusalém tem quase 5.000 anos de idade. No Brasil, o jequitibá-rosa do Parque Estadual de Vassununga, no estado de São Paulo, já passou dos 3.000 anos. Quando Jesus Cristo veio ao mundo, o jequitibá já era um velho senhor. Enquanto a ciência não descobre como o ser humano pode cruzar a barreira dos 120 anos, o jeito é cuidar bem da saúde.

Reuters
Harriet, a tartaruga que o naturalista Charles Darwin levou de Galápagos, morreu no ano passado com
175 anos

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