A cruzada da rainha Victoria
Todo mundo fala mal dela, mas Victoria Beckham
já conseguiu emplacar uma: o corte de cabelo.
Quanto ao resto...
Suzana Villaverde
Sobre ela, os implacáveis tablóides britânicos já disseram quase tudo: antipática, anoréxica, deslumbrada, exibicionista e vítima terminal da moda. Quando se mudou para os Estados Unidos, seguindo o marido famoso, David Beckham, a implicância foi junto. Preparada para conquistar a América, a muito magra, muito bronzeada e muito malfalada Victoria Beckham, 33 anos, levou mais pancadas ainda. Nenhuma novidade. Desde que seu quinteto musical feminino, as Spice Girls, acabou, em 2001, Victoria, apelidada pelos marqueteiros do grupo de Posh Spice (luxuosa), luta com unhas (de acrílico) e dentes (reformados) contra a má vontade da crítica especializada em julgar celebridades. Por mais que se esforce, ou até por isso mesmo, tudo o que faz é filtrado por uma lente negativa. Ela tem provavelmente um dos guarda-roupas mais caros do planeta? Pura ostentação. Só sai de casa vestida de grifes da cabeça aos pés? Ai, que coisa de nova-rica. Pesa 45 quilos e tem 58 centímetros de cintura? Péssimo exemplo para as meninas que cultuam a magreza. Muda de cabelo como quem muda de roupa? Bem, nesse departamento, digam o que disserem os inimigos, Victoria finalmente se vingou. Em março, apareceu com uma espécie de corte chanel desalinhado, com mechas laterais mais compridas. Foi como se o Mar Vermelho das celebridades lhe abrisse um espaço ao lado de Farrah Fawcett, Jennifer Aniston e outras famosas de cabelos infinitamente copiados planeta afora.
Loiríssimo na época, agora Victoria voltou a ter cabelo castanho. Continuou, porém, o corte, batizado de pob, mistura de "posh" com "bob", como é chamado em inglês o cabelo cortado na linha da orelha. "O pob deu tão certo que Victoria, que está sempre mudando, escureceu a cor, mas vai manter o corte por mais algum tempo", jactou-se a VEJA seu criador, o cabeleireiro londrino Ben Cooke, fiel escudeiro de Victoria há sete anos (195 libras, ou 700 reais, o corte). Sobre a cliente preferencial, fez importantes revelações: "Ela tem cabelo levemente ondulado e bem grosso, fácil de trabalhar. E só usa xampu e condicionador à base de caviar". O triunfo da vontade de Victoria sobre o cabelo rebelde e o corpo bem mais cheinho é evidente nas comparações com as fotos do início da carreira. O sucesso do corte Victoria pode ser medido pelas imitadoras famosas. A atriz Katie Holmes, a mulher de Tom Cruise, que virou amiga de Victoria, foi uma das primeiras a aderir: trocou o longo pelo curtinho desalinhado e ficou mais linda ainda. A cantora Rihanna foi atrás e, ápice dos ápices, até Paris Hilton, outra muito imitada e malfalada famosa. No Brasil, o corte fez a cabeça da modelo Barbara Berger, que com ele aparece na campanha mundial da Armani, e das atrizes Deborah Secco e Maria Flor. "Já perdi a conta de quantas vezes fiz. Até quem tem cabelão está cortando sem dó", diz o cabeleireiro Luciano Cassolari, de São Paulo.
No círculo rarefeito dos fazedores de moda e tendências, prevalece o nariz torcido: não pega bem alguém tão completamente over. Sua casa é grande demais, seu bronzeado é carregado demais, seu batom tem brilho demais, seu silicone é evidente demais e suas roupas... bem, suas roupas são um capítulo à parte. Amparada na fortuna do marido (250 milhões de dólares, e até agora nenhum futebol, só para se transferir para os Estados Unidos), ela se tornou a rainha das compras. Só bolsas Birkin da Hermès, com preços que vão de 6.000 dólares ao infinito, consta que tem catorze. A preferência pelo curto, justo e decotado criou uma lenda a seu respeito: com exceção do italiano Roberto Cavalli, os estilistas mais chiques têm pavor de vê-la "estragando" suas criações. Se-gundo uma variante dessa lenda, o americano Tom Ford, quando era manda-chuva da Gucci, viu-a usando a marca, quis saber quem havia lhe mandado a peça, soube que ela tinha comprado e exclamou: "Alguém precisa impedir que ela faça isso". Pura fofoca, claro.
Será que Victoria se importa? Pela expressão, sempre imutável, é difícil de dizer. O ar de enfado talvez seja produto da ausência de sorriso, herança da época em que era uma menina de rosto redondo, pele marcada pela acne, roupas atrozes, cabelos idem e boca fechada por causa dos dentes irregulares. As opiniões sobre si mesma, porém, contribuem para a imagem pouco simpática. "Sempre quis ser famosa, mas nunca imaginei ser Victoria Beckham", já disse. Os fãs indiferentes às maledicências aguardam-na na turnê de reencontro das Spice Girls, a partir de dezembro. "Na verdade, não sei cantar nem dançar", definiu-se ela, que vê o futuro no mundo da moda, onde já se instalou com uma linha de jeans e outra de óculos escuros. Com cadeira cativa na primeira fila dos desfiles de Nova York, Londres, Milão e Paris, ela se considera realizada: "Estou fazendo uma coisa na qual sou boa mesmo. Posso ficar, com toda a confiança, numa sala com Donatella Versace e me sentir respeitada. Nem sei expressar como me sinto bem".