Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 04, 2007

Onde o Brasil perde Suely Caldas

Mais um indicador negativo na extensa lista que o Brasil vem colecionando nos últimos anos. Estudo do Fórum Econômico Mundial, feito a partir de entrevistas com executivos de grandes empresas, mostra que o Brasil caiu da 66ª para a 72ª posição no ranking de competitividade entre 131 países analisados. Em apenas dois anos nosso País perdeu 15 pontos para seus concorrentes, já que em 2005 ocupava a 57ª colocação. Corrupção, excesso de burocracia, falta de confiança nos governos, grau de escolaridade e qualificação da mão-de-obra, tamanho do mercado, endividamento e estabilidade macroeconômica são algumas das variáveis avaliadas na pesquisa, e o Brasil oscilou entre a 10ª colocação (em mercado interno) e 126ª (em estabilidade macroeconômica).

Em junho último o Banco Mundial divulgou a pesquisa Jovens em situação de risco, em que calculou que o País deixa de crescer 0,5 ponto porcentual porque grandes contingentes de jovens não conseguem concluir a escola (em uma geração o País deixa de ganhar R$ 300 bilhões). No início do ano passado pesquisa da Ernst Young comprovou que muitas empresas estrangeiras desistiram de investir no Brasil, em decorrência de práticas de corrupção descobertas no mensalão e em outros escândalos da gestão Lula. Levantamento do sociólogo José Pastore, estudioso em economia do trabalho, revela que o Brasil é campeão do mundo em ações trabalhistas, com cerca de 2 milhões de novos processos ao ano, em decorrência de leis trabalhistas anacrônicas e ultrapassadas. E vai por aí...

Estudos como este do Fórum Econômico Mundial servem de guia para grandes investidores escolherem o país onde aplicarão recursos. E o Brasil perde para concorrentes de maior peso pelo tamanho do mercado, como China (34º), Índia (48º) e Rússia (58º); e também os de menor porte, como Chile (26º) e México (52º). As deficiências do nosso País são calculadas na ponta do lápis por grandes investidores, computadas no chamado custo Brasil e confrontadas com dados de países concorrentes na disputa por investimentos. E onde perdemos?

Escolaridade - Embora tenha uma indústria moderna e dinâmica, que exige mão-de-obra qualificada, é limitado o contingente de trabalhadores com escolaridade acima da média de seis anos. Por isso, quando o país cresce a taxas acima de 3% ou 4%, logo passa a viver o dilema da falta de trabalhadores especializados. A indústria de petróleo, que cresceu aceleradamente após a flexibilização do monopólio, vive hoje esse dilema e aumenta seu custo trazendo mão-de-obra estrangeira.

Corrupção - Desde o caso Waldomiro Diniz, em 2003, o governo Lula e o Congresso não param de produzir escândalos, que são negativamente computados nas contas dos investidores em nomenclaturas como "pedágios", "sobretaxas" e "taxas adicionais de custo". Dependendo da extensão e da falta de percepção dos limites da corrupção, o país pode ser logo descartado.

Burocracia - O excesso de exigências burocráticas para abertura de empresas, longos e demorados processos no Executivo e no Judiciário, além de propinas cobradas por burocratas para acelerar decisões, tudo isso é percebido e computado como custo contra o poder de competição do Brasil.

Desconfiança nas instituições públicas - Outro item em que o Brasil perde feio, ocupando a 112ª posição na pesquisa do Fórum Mundial. O governo Lula tratou de destruir valores de confiança e independência política em instituições fundamentais para decisões de investimento. Caso das agências reguladoras, onde o governo entra quando quer, gera desconfianças e tem contribuído para afastar o investimento privado em infra-estrutura. O estrangulamento da energia elétrica e conseqüente racionamento do gás são conseqüências disso.

Estabilidade macroeconômica - Não basta o país ter inflação baixa e controlada. É preciso que comprove estabilidade com outras variáveis, como taxa de juros civilizadas, redução segura e contínua da dívida pública, queda das despesas do governo e crescente superávit primário para equilibrar as contas públicas. Como o avanço nesses itens é quase imperceptível, o Brasil foi para a lanterna e ocupou o 126º lugar entre os 131 países pesquisados.

O Brasil está perto de arrancar do mercado financeiro a classificação "grau de investimento". É um avanço. Mas é a gestão pública competente e honesta que supre deficiências e gera investimento produtivo, riqueza, emprego, renda, salário e progresso social. É nisso que perdemos.

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