Apesar das crises do México, da Rússia, do Brasil e da Argentina; apesar dos ataques de 11 de setembro de 2001; apesar do estouro das bolhas - o período é de grande liquidez nos mercados, forte expansão do comércio exterior; baixa da inflação global; crescimento ininterrupto da produção mundial; e de incorporação de pelo menos 60 milhões de pessoas, antes excluídas, ao mercado de trabalho e de consumo.
A economia brasileira vai tirando proveito dessa exuberância. Em apenas cinco anos, deixou de ser devedora e passou a ser credora líquida do resto do mundo. A inflação, entre 3% e 4% ao ano, nunca foi tão baixa. A produção cresce o dobro do que cresceu nos últimos 15 anos (até 2006). As reservas já ultrapassaram os US$ 167 bilhões.
O professor Yoshiaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas, diz que o presidente Lula recebeu da economia global um cheque de US$ 250 bilhões, um presentão. Outros preferem chamá-lo de Lula, o Venturoso. Essas afirmações sugerem que o maná está caindo do céu. E não é bem assim. Se cai maná, cai para todos. Mas outras economias não estão tirando o mesmo proveito porque não criaram condições para isso. Embora tenha cometido um montão de erros, o presidente Lula vem acertando no essencial. Continua comprometido com os enunciados da Carta ao Povo Brasileiro, de junho de 2002.
É preciso saber até quando dura a boa fase. A crise do crédito hipotecário de alto risco (subprime) tem sido ocasião para que muita gente questione a sustentabilidade do processo. Até onde vai o arranjo entre Estados Unidos e China, em que esta opera como grande fornecedora de mercadorias e de poupança e os Estados Unidos se põem a consumir produtos asiáticos? A oferta de petróleo e de matérias-primas dará conta da demanda? Até onde os países emergentes vão empilhar reservas? A desvalorização aparentemente inevitável do dólar não se encarregará de deitar ao chão os castelos de cartas?
A sustentabilidade do atual processo (e dos seus resultados) vai sendo questionada há mais de dez anos. Os anunciadores de desastres estão sempre profetizando o pior para a curva seguinte. É recessão, desemprego, esgotamento iminente das reservas de petróleo e de matérias-primas, inflação de volta, derrubada dos mercados... e por aí vai. E, no entanto, sustentável ou não, o besouro segue voando.
As incertezas vão continuar aí ou, até mesmo, crescer. A atual estabilidade asiática poderá ser quebrada por uma crise política interna; o armamento nuclear do Irã poderá desfechar nova guerra de resultados imprevisíveis; a alta dos preços do petróleo e das matérias-primas poderá inviabilizar a produção; os déficits gêmeos dos Estados Unidos poderão paralisar a mais poderosa locomotiva do mundo...
A política econômica não pode esperar até que haja apenas certezas. Tem de apostar.
E a principal aposta a fazer agora é a de que a emergência de novas potências, principalmente na Ásia, com fome de energia e matérias-primas, abre uma oportunidade histórica para a economia brasileira. A hora é de aproveitá-la.