Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 04, 2007

O difícil outono de Sarkozy Gilles Lapouge

Um outono difícil para Nicolas Sarkozy. Nada dá certo. Primeiro sua mulher, Cecilia, pede o divórcio. Em seguida, as greves dos transportes, dos funcionários e dos magistrados paralisam o país. E depois o escândalo das crianças roubadas no Chade por uma organização humanitária francesa duvidosa. E agora, uma nova preocupação: o barril de petróleo se aproxima dos US$ 100.

Os franceses, que já se debatem com a alta geral nos preços, vêem a inflação se inflamar. Encher o tanque arruína bolsos mais modestos. Com o inverno, o aquecimento com combustível fica proibitivo. Alguns estão voltando para a lareira.

O petróleo não é o único a fazer das suas. O inquietante é que o aumento atingiu muitas matérias-primas. A tonelada de trigo chegou a US$ 230, aumento de 180% desde o verão de 2006. O milho acompanhou o trigo, com aumento de 100% no mesmo período. O ouro vale US$ 794, nível jamais atingido desde 1980. Até o chumbo, que entra nas baterias elétricas, ficou louco: seu preço subiu vertiginosamente (A China, onde se multiplicam as bicicletas elétricas, em cinco anos triplicou o consumo de chumbo).

O bushel (medida equivalente a 27,2155 kg) da soja em grão ultrapassou os US$ 10. O sorgo está numa forte demanda: as importações européias devem passar de 750 mil para 1,5 milhão de toneladas. São raros os produtos que escapam da espiral ascendente; é o caso do açúcar, graças à boa safra no Brasil e na Índia.

O movimento é global. A questão é saber se é o petróleo que puxa os preços. Isso é verdade apenas em parte. Os especialistas invocam a combinação de vários fatores: o colossal apetite da China, as ações registrando baixas históricas e o caos climático. A tudo isso é preciso acrescentar a febre especulativa, porque enormes capitais, depois da crise imobiliária nos Estados Unidos, alimentam as altas ao buscarem saídas para outros mercados.

O caso do trigo: a Austrália, afetada pela seca, produzirá 12 milhões de toneladas no lugar de 18 milhões. A Ucrânia em julho suspendeu as exportações pelos mesmos motivos. A Rússia decidiu taxar as exportações. Esses sobressaltos são agravados pelos especuladores, que ficam à espreita, procurando por oportunidades. E saltam sobre as matérias-primas: este ano o aumento das cotações é de 110%, contra apenas 15% nas ações negociadas na Bolsa de Paris.

Surge então a pergunta lancinante: a culpa é dos biocombustíveis? Estes seguem numa progressão tumultuada: enquanto, no início, eram descritos pelos ecologistas como a salvação, agora os mesmos ecologistas os culpam de todos os males.

É verdade que o impacto dos biocombustíveis é forte. Nos Estados Unidos, 24% da produção de milho será absorvida pelos biocombustíveis. Segundo Patricia Le Cadre, diretora do centro de estudos Cérépoa, "no entanto, apenas 10% dos cereais são utilizados na Europa para o carburante. Há uma discrepância entre a realidade presente e as expectativas".

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