Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 13, 2007

Novo campo de petróleo muda a equação energética



Editorial
Valor Econômico
13/11/2007

Se as grandes expectativas criadas pelo novo campo de petróleo na Bacia de Santos se confirmarem, o jogo energético no continente terá mudanças substanciais. A grande dependência brasileira do fornecimento de gás natural boliviano será muito atenuada, assim como será menos intensa a atração que o império de reservas petrolífera confere a Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

Por indicações preliminares, o potencial do campo de Tupi pode aumentar em 60% as reservas conhecidas, para 20 milhões de barris. As previsões da direção da Petrobras apontam, no futuro, para reservas de até 70 bilhões de barris. É possível, desde que esse potencial se confirme de fato, que o Brasil se torne um exportador de petróleo, depois de ter praticamente conseguido a auto-suficiência. O novo campo é bem-vindo especialmente porque a era do petróleo barato parece ter ficado para trás - o Brasil economizará dólares nas importações que forem substituídas, e ganhará outros com vendas externas crescentes. Para o governo Lula, que começava a entrar em corner com a interrupção do fornecimento de gás para indústrias no Rio e São Paulo, nada melhor poderia ter acontecido.

Para quem olha a história, sem a mania dos marcos inaugurais, fica claro que a identificação de novos campos em águas ultra-profundas é uma retumbante vitória tecnológica da Petrobras e resultado de um patrimônio de conhecimentos acumulado em décadas. A capitalização política feita pelo governo Lula, como de resto faria qualquer outro governo, rendeu-lhe uma saraivada de críticas e contestações que obscurecem a magnitude do que o país está prestes a conquistar.

É certo que capitais imensos terão de ser mobilizados para extrair o petróleo imerso em camadas ultra-profundas. É preciso considerar que o próprio potencial das reservas eleva o cacife da estatal em levantar recursos a custos menores em um mercado internacional onde ainda predomina um excesso de liquidez, embora não se saiba até quando ele irá durar. A Petrobras não está sozinha em alguns dos campos promissores, para os quais contará com auxílio de empresas multinacionais. Além disso, capacidade de investimento não foi um problema para a Petrobras até agora e provavelmente continuará não sendo.

A Petrobras tem se notabilizado pela exploração do petróleo em águas profundas. A maior profundidade do campo de Tupi coloca desafios adicionais de envergadura para os técnicos da companhia, assim como o foram os que irromperam quando do início da exploração do petróleo na plataforma continental. É certo apostar em um tempo maior para a extração e em custos mais elevados, mas parece pessimista demais a dúvida sobre se este novo obstáculo será vencido ou não. O passado da companhia traz esperanças bastante razoáveis de sucesso.

Obviamente, o petróleo a US$ 100 o barril viabiliza campos de custo maior, mas isto é o que o mundo todo está fazendo, com a conseqüente escassez de mão-de-obra e principalmente de equipamentos. Há atrasos na fabricação e fornecimento desses equipamentos, uma condição, porém, que afeta igualmente as companhias de petróleo mundo afora.

Tudo somado, e se tudo der certo, o Brasil consegue driblar o destino de ter de negociar gás com países politicamente conturbados como a Bolívia, que deverá se tornar um fornecedor complementar. Mais petróleo e gás internos significam ainda a necessidade de menos mesuras ante Chávez.

A existência do novo campo traz em si a possibilidade de um reforço da "porção estatal" da Petrobras. A abertura do mercado do petróleo foi feita pela metade - ou menos que isso - e o crescimento das reservas com Tupi leva mais água no moinho da estatização. O governo Lula já pensa em usar o modelo "boliviano" para explorações privadas em andamento, excetuando-se áreas de risco, apropriando-se de parte significativa da receita dos empreendimentos - 82% no caso da Bolívia - segundo a "Folha de S. Paulo" (10 de novembro). Ao colocar em xeque o marco regulatório já bastante favorável à Petrobras, o Brasil pode afugentar investidores externos nessa área, como o fez Morales. Surtos de euforia no tratamento destas questões podem ter conseqüências muito ruins para o país

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