A democracia desfigurada
O momento não poderia ser mais apropriado. Quando o Congresso da Venezuela aprova superpoderes a Hugo Chávez, concretizando uma ameaça pressentida aos direitos individuais e possibilitando sua reeleição permanente, a Academia da Latinidade começa amanhã em Lima, no Peru, um seminário internacional que tem como objetivo principal analisar a situação atual da democracia na América Latina. A Academia da Latinidade, criada em 1999 para discutir a questão do multiculturalismo dentro de um universo já ameaçado pela hegemonia dos Estados Unidos, mesmo antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, reúne intelectuais, na maioria de países de origem latina, e se propõe a intermediar as relações do Ocidente com o Oriente, tendo como base o fortalecimento da democracia.
É dentro desse aspecto mais amplo que se vai discutir como na América Latina, a pretexto de se contraporem à hegemonia norte-americana, governos colocam em risco o sistema democrático.
O seminário, cujo título geral é “Democracia profunda, reivenções nacionais e subjetividades emergentes”, vai debater os últimos acontecimentos na América Latina tendo como base os fenômenos conjuntos das assembléias constituintes de Venezuela, Bolívia e Equador, que, na definição do cientista político e secretário-geral da Academia, Candido Mendes, estão “literalmente desfigurando a democracia, criando a democracia plebiscitária, admitindo a eleição perpétua do presidente, vinculando os movimentos sociais aos sindicatos e eliminando ou reduzindo a liberdade de imprensa através das comissões de censura do povo”.
Em contraposição, o seminário vai analisar o desenvolvimento mais profundo da democracia no continente, com o exemplo bem-sucedido da “concertación” chilena e a possibilidade de que a nova presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, siga os mesmos passos, se distanciando do modelo venezuelano, que vem procurando se impor naquele país através do apoio financeiro.
E, sobretudo, discutir a situação do Brasil, que continua com a maciça popularidade do presidente, um líder que se apresenta ao mundo como o avesso do chavismo, apesar dos movimentos do PT surgidos nos últimos dias pela possibilidade de Lula disputar um terceiro mandato consecutivo.
A mesma questão surge no debate político da Colômbia, onde o presidente Alvaro Uribe, o avesso de Chávez na região e com o apoio intenso dos Estados Unidos, também abre a discussão sobre a possibilidade de disputar um terceiro mandato “para evitar uma hecatombe”. O que mostra que a democracia na América Latina sofre ameaças à direita e à esquerda, com o populismo, que será um dos temas principais dos debates.
O seminário reunirá especialistas europeus, como os sociólogos Alain Tourraine, da França, e Gianni Vatimo, e da região, como o argentino Torcuato di Tella e o boliviano Javier Sanjiés, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, entre outros. O Brasil estará representado, além do próprio Candido Mendes, pelos acadêmicos Hélio Jaguaribe e Sérgio Rouanet.
O secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, um dos artífices da política brasileira para a América Latina, abrirá o seminário, ao lado do ministro das relações Exteriores do Peru, José Antonio Garcia Belaúnde.
Para Candido Mendes, a questão é saber se, em tempos de hegemonia no mundo, a democracia virou o que os Estados Unidos querem que seja. E em que termos os países estão conseguindo ou não avançar nesse particular. “O problema da América Latina é o de que, diante do que está acontecendo com o chavismo, a marca da chamada contradição principal, que é evitar a hegemonia norte-americana, está desfigurando a democracia em função dessa prioridade”.
O que o ministro da Justiça, Tarso Genro, considera a grande mudança de patamar da política brasileira durante o governo Lula, que ele cunhou como “a plebeização da política”, é um fenômeno da política atual da América Latina, e vai ser analisada diante das diferentes conseqüências que produz em países como o Brasil e aqueles que sofrem a influência do chavismo.
Candido Mendes chama a isso de “a democracia da marginalidade, que vai adiante em função da consciência popular emergente”, e que poderá ganhar novas funções diante dos acordos que serão necessários para a formação de coalizões “depois de o PT ter perdido a chance de se transformar em mediador da marginalidade”.
Para ele, a questão fundamental que está colocada é como esse consenso popular continuará sem cair no populismo.
Na sua análise, a resposta popular a Lula não passa mais nem pelo partido, o PT, nem pelos sindicatos ou pelos movimentos sociais, mas pela percepção de programas como a Bolsa Família, pelo treinamento maciço de famílias rurais e o controle da migração urbana.
Segundo ele, não se trata mais de escolher entre o “lulismo” em troca do “petismo”, mas “de uma experiência inédita de percepção de progresso e da plena liberdade política, face à ameaça de um retrocesso”.
Salientando a diferença dos momentos políticos do Brasil e dos demais países da região que seguem o modelo chavista, Candido Mendes ressalta que a superação dos empecilhos “conduz o Brasil ao avanço da democracia profunda, que pode garantir a fidelidade do regime ao Estado de Direito”.
Segundo ele, o importante é que o presidente Lula esteja consciente de que essa ligação com as aspirações populares, reafirmada no dia-a-dia do governo, não se mistura com a tentação carismática de controlar o governo.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
novembro
(510)
- Míriam Leitão - A verdade de L.
- Merval Pereira - Disputa de poder
- Luiz Garcia - No Pará, no Rio
- Eliane Cantanhede - "Chique"
- Dora Kramer - Fora da agenda
- Clóvis Rossi - O câncer e o PT
- Celso Ming - Vento do medo
- Muy amigos...
- A truculência de Chávez
- Caras emoções baratas - Nelson Motta
- Lula não confia nos oprimidos: sobe hoje a favela ...
- Sarkozy: 'Distúrbios não são crise social'
- 30 de novembro
- O ataque fascistóide de Lula ao DEM
- OS PATIFES DAS ZAMÉRICAS
- Alberto Tamer - Brasil, feliz, não vê mais nada
- O pior entre os melhores
- Míriam Leitão - Mundo novo
- Merval Pereira - A reboque
- Eliane Cantanhede - Chávez e as Farc
- Dora Kramer - Tiros no peito
- Clóvis Rossi - Exaltação da mediocridade
- Celso Ming - Força nova
- Contra o interesse nacional
- Clipping 29 de novembro
- Míriam Leitão - Em três dimensões
- Merval Pereira - Continente em transe
- Dora Kramer - Debilidade funcional
- Celso Ming - A salvação vem das Arábias
- Clipping 28 de novembro
- AUGUSTO NUNES -Três retratos 3x4 da geléia tropical
- FHC rebate Lula e diz que ?não pode haver preconce...
- DORA KRAMER Notícias do palácio
- Merval Pereira - O plano B
- Míriam Leitão - Licença para gastar
- Clipping 27 de novembro
- Rubens Barbosa,O DIFICIL CAMINHO DA MODERNIZACÃO
- Clipping 26 de novembro
- Ainda FHC, Lula, os educados e os tontons-macoutes...
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR Rumo à estação Lulândia
- ELIANE CANTANHÊDE Exceção
- Clovis Rossi-O diploma e o lado
- Miriam Leitão Ampliar o debate
- O GLOBO ENTREVISTA LULA
- O GLOBO ENTREVISTA Luiz Inácio Lula da Silva
- Merval Pereira Submarino nuclear
- João Ubaldo Ribeiro Aqui da minha toca
- DANIEL PIZA
- Estadão entrevista Ronaldo Sardenberg
- Alberto Tamer Dólar e petróleo ameaçam o Brasil
- Mailson da Nóbrega
- Democracia ferida
- Celso Ming O desequilíbrio do ajuste
- DORA KRAMER Sem o cheque, resta o choque
- Vergonha nacional
- Tucanos perdidos na floresta
- Quem ganhou com as privatizações
- Entre aloprados e pajés
- Tratamentos a Lula e Azeredo contrastam
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Saulo Ramos
- MILLÔR
- Stephen Kanitz
- Radar
- André Petry
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- O PSDB renova seu discurso de oposição
- Projeto liquida com o cargo de suplentes
- A queda do ministro Mares Guia
- Renan Calheiros: a novela continua
- Adolescente é estuprada em cadeia do Pará
- Fechado o restaurante do denunciante do mensalinho
- França Sarkozy enfrenta sindicatos com o apoio ...
- Desbaratada a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar
- Nos EUA, quem bebe e dirige é punido
- O carro islâmico da Malásia
- Grandes lojas aderem ao ritmo fast-fashion
- O celular que funciona como cartão eletrônico
- A escova de dentes que dispensa a pasta
- A Amazon lança aparelho que recebe livro digital
- Encontrada a gruta de Rômulo e Remo
- Thiago Pereira, nosso recordista mundial de natação
- A guerra contra a garrafa plástica de água mineral
- Estudo põe em xeque o programa brasileiro antitabaco
- Agora, a FDA aperta o cerco contra o sal
- Células-tronco são obtidas a partir de células da ...
- O que pensam os militares brasileiros
- Michel Schlesinger: um jovem na Congregação Israelita
- O significado da desvalorização do dólar
- Interferência política e concessão de empréstimos
- As opções de cirurgia para a correção da vista
- Cuidados com os olhos no verão
- Einstein – Sua Vida, Seu Universo, de Walter Isaacson
- A Economia em Machado de Assis
- A Mídia do Golpe e A Mídia do Contragolpe
- Lula reage a FHC — “reservadamente”, é claro...
- Merval Pereira Reforçando a defesa
- Celso Ming Vai mudar a economia?
-
▼
novembro
(510)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA