Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 04, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

O general da bola contra-ataca

A jornalista com jeito de gringa aparecera a serviço no prédio da Fifa em Zurique. Fora escalada pela Associated Press para acompanhar a entrevista, prometida no site da entidade, com representantes do país escolhido para hospedar a Copa do Mundo de 2014. Ignorava que o Brasil não é coisa para amadores, como advertiu Tom Jobim.

Não poderia adivinhar, assim, o recado emitido pelo sorriso coletivo da gigantesca comitiva brazuca: a programação oficial fora subvertida arbitrariamente pelos alegres forasteiros. A turma no palco, chefiada pelo presidente da República e pelo presidente da CBF - cargos de grandeza idêntica no País do Futebol - não tinha tempo a perder com perguntas e respostas. Estava ocupada demais com o desfile de abertura do carnaval temporão.

Onde havia uma comissão de frente, a repórter estrangeira viu entrevistados. E quis saber o que será feito para melhorar o sistema de segurança pública. Foi a deixa para a entrada em cena de Ricardo Teixeira, o chefão da Confederação Brasileira de Futebol.

Convencido de que os EUA e a Inglaterra andam costurando nas sombras uma aliança destinada a evitar que a Copa seja aqui, o general da bola tinha na ponta da língua uma declaração de guerra. A jornalista fizera a pergunta em inglês. Onde nasceu, onde trabalhava, quis saber Teixeira.

Pareceu um tanto decepcionado ao saber que falava com uma canadense contratada pela AP. Como era tarde para mudar o script, resolveu assumir o comando das tropas da pátria de chuteiras. Com o olhar superior de quem até bateu pênalti no Maracanã, Lula aprovou a autonomeação.

"Temos visto brasileiros sendo agredidos e assassinados em países reputados de grande segurança", berrou. Em mau português, dera o sem rodeios à Grã-Bretanha em geral e, em particular, à polícia de Londres, responsabilizada pela execução de Jean Charles de Menezes.

Animado com os aplausos do Estado-Maior, o guerreiro deslocou-se para a frente americana, pronto para bombardear escolas ensangüentadas por jovens assassinos dispostos a atirar em tudo que se mova. Sobrou até para o Canadá, cenário de misteriosos "massacres de delegações esportivas estrangeiras".

A jornalista ouviu a discurseira em silêncio. Talvez ignore que o Brasil figura em quarto lugar no campeonato mundial da criminalidade. Ou que, por imposição do próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, pelo menos R$ 6,5 bilhões estão reservados no orçamento da Copa a gastos com segurança. Sem apartes, Teixeira garantiu que "o que acontece no Brasil, acontece em qualquer país.

Nem tudo. Em dezembro de 1983, a taça Jules Rimet, entregue em definitivo ao primeiro tricampeão do mundo, foi roubada da sede da CBF por ladrões excitados pela informação de que continha 1,8 quilo de ouro puro. A estatueta foi derretida e vendida por baixo preço. A taça que era nossa já não existe. Acabou. Aos 59 anos, virou geléia no Brasil.

Só no Brasil.

Cabôco Perguntadô

Irritado com o artigo que descreve um encontro, ocorrido em 2003, entre oficiais do Exército e Marco Aurélio Garcia, o homem do mais obsceno top-top-top desafiou o signatário da coluna, em carta publicada no JB da última sexta-feira, "a dar o local e data da reunião e a mencionar um só militar presente". Para provocar o chefe, o Cabôco pediu-lhe respostas. "Tentem uma interpelação judicial", ouviu de volta. O Perguntadô espera que Marco Aurélio atenda ao conselho do patrão.

Sorriso na hora errada

Incluído na lista dos acusados de receber mensalões distribuídos pelo bando liderado por Zeca do PT, ex-governador de Mato Grosso do Sul, o senador Delcídio Amaral abriu o sorriso de bebê Johnson e soltou a comparação: "É mais fácil o sargento Garcia prender o Zorro do que o Zeca me ajudar".

A frase sugere que Delcídio não perde o humor nem quando topa com notícia ruim. Para não perder a honra, precisa agora trocá-lo pela indignação dos inocentes. E processar os autores da denúncia gravíssima.

Ruim de mira, bom de fuga

No saloon em João Pessoa, a performance do pistoleiro Ronaldo Cunha Lima foi tão bisonha quanto sua passagem pelo governo estadual ou a versalhada do poeta minúsculo. Embora disparasse à queima-roupa, não conseguiu matar o ex-governador Tarcísio Burity. Atirador de quinta, Cunha Lima é um fugitivo de primeira. Depois de 14 anos na gaveta do STF que abriga a turma do "foro privilegiado", renunciou ao mandato de deputado para escapar do julgamento pelas togas. Longe da Câmara, ficou ainda mais longe da cadeia.

Não existe crise no céu do poder

"Faça ou vá embora", trovejou Nelson Jobim ao assumir, com o crachá de ministro da Defesa, a gerência do apagão aéreo. Milton Zuanazzi demorou 102 dias para decifrar o recado, cair fora da Anac e deixar que o chefão fizesse. Jobim começou fazendo uma previsão: até março, os passageiros comuns continuarão expostos aos flagelos que, para o ministro, terminaram no dia da posse.

Promovido a freguês da FabTur, Jobim está muito feliz com a pontualidade dos jatinhos. E vive elogiando o tamanho das poltronas.

Yolhesman Crisbelles

A taça da semana vai para a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, pela frase com que tentou reforçar a tese, muito apreciada por jornalistas a serviço do governo, segundo a qual a CPMF é um "imposto justo":

Você cobra de 18 milhões de pessoas e beneficia 200 milhões.

Mineira na certidão de nascimento, gaúcha na alma, Dilma tem a cara e o jeitão da professora de matemática durona. Mas não sabe fazer contas. Ou finge que não sabe. Dá na mesma.

[ 04/11/2007

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