O Globo |
14/11/2007 |
À medida que se aproxima a eleição para a presidência do PT, as divergências no partido vão se explicitando, deixando claro que as marcas das crises que o partido vem vivendo desde o mensalão continuam se fazendo sentir. O ministro da Justiça, Tarso Genro, é um exemplo claro dessa ferida que o tempo não cicatriza, ele que assumiu a presidência do partido na crise do mensalão, em 2005 e tentou refundá-lo, contra o grupo do ex-ministro José Dirceu, que até hoje tem o controle da máquina partidária. A insatisfação do grupo de Tarso Genro com os caminhos do PT é tão grande que ele, esta semana, alinhou-se a uma crítica antiga do tucano José Serra e repetiu que a corrente hegemônica no PT nacional "desistiu da utopia". O atual governador de São Paulo, ao assumir a presidência do PSDB após ser derrotado por Lula, acusou o PT de adotar um "bolchevismo sem utopia", denunciando-o como um partido de aparelhamento do Estado com fins corporativos, e não ideológicos, com o objetivo do poder pelo poder. Pois o ministro Tarso Genro esta semana concordou com Serra, dizendo que o objetivo central da direção tem sido manter a estrutura de poder, se afastando da intelectualidade e barrando a discussão sobre a política econômica do governo federal. A crise ética que o partido viveu, segundo Tarso, exige que, na troca da presidência nacional, novos caminhos sejam trilhados. O candidato do grupo "Mensagem ao Partido" é o deputado federal José Eduardo Cardozo, que se notabilizou na CPI do mensalão como um petista independente. Já o coordenador do MST, João Pedro Stédile, divulgou nota anunciando o apoio do movimento a Valter Pomar, o candidato da "Articulação de Esquerda", esperando que ele leve o partido nos rumos do socialismo. Atual secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar saiu em defesa de Hugo Chávez, atacando um dos maiores sustentáculos do governo Lula, o senador José Sarney, que luta para impedir a entrada da Venezuela no Mercosul sob a alegação de que o país caminha para uma ditadura, não preenchendo a chamada "cláusula democrática" do bloco que ajudou a fundar quando era presidente da República. Pomar não deixa de lembrar o apoio de Sarney às ditaduras militares e diz que chega a ser engraçado ver gente como ele e Paulo Maluf - que é o relator da entrada da Venezuela no Mercosul na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e já anunciou seu voto contrário - criticando Chávez, quando foram beneficiados por atos das ditaduras militares. Pomar e Cardozo são dois dos sete candidatos a presidente nacional do PT. Os outros são: Ricardo Berzoini, o candidato do grupo do presidente Lula e do ex-ministro José Dirceu; Jilmar Tatto, do grupo da ministra Marta Suplicy; o trotkista Marcos Sokol; o ecologista Gilney Viana e o marxista José Carlos Miranda. Outro sinal de que há mudanças estruturais na militância profunda do PT foi o VI Encontro Nacional de Fé e Política, que reuniu cerca de quatro mil pessoas de 23 estados, no SESC de Nova Iguaçu, no fim de semana. Foi o sexto encontro desse tipo: os dois primeiros, em Santo André e em Poços de Caldas, aconteceram em 2000 e em 2002, e Lula esteve presente. Eleito presidente, Lula não compareceu mais aos encontros, que reúnem a chamada esquerda cristã, um dos antigos sustentáculos mais fortes do partido. Embora grande parte da militância das chamadas "comunidades de base" ainda mantenha vínculos políticos com o PT, esse encontro marcou uma postura mais discreta e menos triunfalista frente ao governo Lula. Dois fundadores do PT e dos encontros, membros proeminentes da militância da esquerda católica, estiveram presentes, exemplificando a divisão no partido: o chefe de gabinete particular da Presidência da República, Gilberto Carvalho, nas vezes em que se pronunciou, não falou de governo. Já o deputado dissidente Chico Alencar sentiu-se "totalmente à vontade" no evento e não sofreu qualquer hostilidade. A oficina que coordenou, sobre "Espiritualidade e militância política", foi uma das mais concorridas, e um texto de Leonardo Boff que circulou mencionava o PSOL como "novidade necessária, pois cumpre tarefa imprescindível numa democracia, coisa que a maioria dos partidos não está fazendo: manter alta a bandeira da ética e viva a idéia do bem comum, constituindo-se como consciência crítica e vigilante da nação, organicamente articulado com os anseios populares". O governo também não foi hostilizado, mas o tom do encontro foi o que estava escrito na convocação: "Sabemos que o voto popular que deu um segundo mandato ao presidente Lula não coloca seu governo automaticamente no caminho das mudanças estruturais". Segundo Chico Alencar, "a linha geral que pontuou falas e debates é a da organização de base, do reforço aos movimentos populares, de um trabalho educativo e molecular para uma nova consciência política e a disputa de hegemonia na sociedade". A crítica forte à corrupção e à perda da coerência política do PT mostrou que há uma margem de manobra nas "comunidades de base", que deram origem ao PT, para alternativas políticas mais à esquerda. É por essas e outras divisões internas que o ministro da Justiça, Tarso Genro, adverte que mesmo que o presidente Lula termine seu governo muito popular, o PT não sairá necessariamente das eleições fortalecido se não fizer uma revisão de procedimentos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, novembro 14, 2007
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