Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

Luiz Garcia - Os fogueteiros e depois

Eles ganharam apelido adequado: são os PMs fogueteiros do 15º Chamá-los de PMs corruptos ou coisa parecida seria também correto — mas não bastaria para destacá-los numa corporação marcada por alto índice de desvios de comportamento.
Nada abala mais profundamente a imagem de uma organização policial do que a corrupção de seus integrantes.

Não é brincadeira oferecer à população uma corporação debilitada pela falta de recursos — mas as coisas ficam muito mais sérias quando ela é atacada pelo vírus da incompetência. E poucas ameaças são mais assustadoras para o cidadão do que a figura do policial-bandido. Ainda mais quando o problema tem freqüência e profundidade.
Mas é sempre animador conhecer uma investida séria, eficaz, contra policiais/bandidos, como a que aconteceu no 15º Batalhão da PM. Principalmente quando é imediata a correção de erros no percurso. Melhor ainda se a lição desses erros for corretamente aprendida.

Foi o que aconteceu na divergência entre promotores e juiz. Os primeiros acharam que seria suficiente descrever crimes e relacionar acusados; afinal, o modo de agir era rigorosamente o mesmo em todos os casos. O segundo entendeu que as ações de cada policial/bandido teriam de ser descritas separadamente.
E a turma toda ganhou a rua, com fogos e algazarra de quem não tem mesmo vergonha na cara.
O Ministério Público mostrou jogo de cintura: não discutiu e produziu em 24 horas uma denúncia com relatos separados para cada indiciado.
Em poucos dias, quase todos os acusados foram presos pela segunda vez. (Quando escrevo, faltam dois de um total de 44.) Mas o risco de fugas existiu.
E o leigo imagina um cenário alternativo em que o juiz telefonaria para o chefe dos promotores: “Olha Fulano, não dá para aceitar essa denúncia: tem de explicar a história de cada um, puxa vida!” “Ih, Meritíssimo, é mesmo! Faz o seguinte: adia o despacho que amanhã mesmo botamos na sua mesa uma denúncia certinha.” Isso é impossível acontecer? Desculpem a ignorância.

Mas que não tinha mal nenhum, não tinha mesmo. Onde é que os interesses da Justiça estariam tolhidos, e os direitos de defesa ofendidos? No fim das contas, o episódio teve lado ruim e lado bom. Ruim, por exemplo, foi a pisada feia na bola do coronel Ubiratan, comandante-geral da PM, que não viu nada demais na festa dos corruptos.
E o lado bom: depois da festa dos corruptos, a Corregedoria da PM anunciou uma investigação sobre os carrões dos PMs. Pode vir por aí uma carreata de provas de enriquecimento ilícito.
Não seria boa idéia, só para conferir, generalizar esse tipo de verificação em pátios de quartel e calçadas de delegacia?

Arquivo do blog