O FMI acha que o governo brasileiro está certo na área fiscal, social e monetária. Em uma hora de conversa com o diretor do Hemisfério Ocidental do FMI, Anoop Singh, ouvi elogios ao governo Lula, em todas estas áreas. Singh defendeu o Banco Central, o Bolsa Família e sustentou que a política fiscal brasileira é mais forte do que a de outros países da América Latina.
Ele esteve no Brasil na semana passada no lançamento do relatório do Fundo sobre a situação econômica das Américas.
Depois de um seminário em São Paulo consegui uma conversa exclusiva com ele. Anoop Singh foge dos temas controversos da região como Venezuela e Argentina, mas defende o governo brasileiro e suas escolhas.
— O Brasil está baseado em bons fundamentos. No passado a região teve esses ciclos de alto crescimento e colapso. O problema adicional é que após cada um desses colapsos os pobres precisavam de cinco anos para recuperar seu poder de compra.
Agora acho que está no melhor caminho, o do crescimento sustentado e crescente — disse ele.
Perguntei sobre os juros altos no Brasil, mais altos que em outros países, e tanto ele quanto o representante do Fundo no Brasil, Max Alier, sustentaram a tese de que o BC está certo.
— Nos últimos anos, muitos países adotaram metas de inflação. Começou em Austrália e Nova Zelândia, se espalhou pela América Latina.
No sistema, o Banco Central tem um mandato e o segue através de reuniões, análises, métodos. É independente para fazer isso e não precisa de uma segunda opinião, nem do FMI. Eles têm objetivos e têm que perseguilos.
O diretor rebate a tese de que o país poderia ter crescido mais se o BC tivesse sido mais ousado: — A inflação está caindo, a volatilidade da inflação está se reduzindo, os juros caíram substancialmente e estão no seu nível histórico mais baixo, o crescimento está aumentando.
Isso significa que o modelo está funcionando.
Ele falou das preocupações do FMI com a expansão dos gastos em diversos países da América Latina, mas ponderou que o Brasil tem situação melhor: — O Brasil, na verdade, está numa posição fiscal mais forte do que outros países.
No Brasil o superávit primário não está caindo. Para a região nós estamos prevendo uma queda do superávit, mas aqui a meta do governo, já anunciada, é de manter o superávit.
Ele acha que o governo brasileiro também está aperfeiçoando a composição das despesas. Idealmente, explicou Anoop Singh, os gastos do governo devem crescer em investimentos e em programas sociais focados nos mais pobres. Ele admite que o investimento público não é suficiente, mas defende os programas de focalização nos mais pobres, como o Bolsa Família.
— O Bolsa Família é um bom exemplo da mudança de gasto social em favor de um programa mais focalizado no pobre. Este tipo de programa está se espalhando na América Latina: no México, Chile e Brasil. Acabo de voltar do Peru, onde o presidente García disse que fará um programa de transferência de renda com condicionalidade de presença da criança na escola, a base da sua política social.
Quando pedi sua avaliação sobre as políticas sociais do governo Hugo Chávez, ele respondeu que não tem ido lá há algum tempo. Quando perguntei se o Fundo não se arrepende de não ter ajudado a Argentina na sua crise, ele de novo foi pela tangente.
— Eu comecei a trabalhar com a Argentina depois da crise. Temos inúmeros relatórios sobre o assunto e inclusive do escritório de avaliação independente do FMI. Isto nos tomaria cinco horas de conversas. Mas eu olho para frente, este é o meu mandato, e a minha visão pessoal é que a Argentina está indo muito bem, se recuperou e está crescendo.
O que preocupa Anoop Singh é mais a economia americana. A recessão, segundo ele, não é o cenário base, mas admitiu que a possibilidade de uma recessão não é zero. Só não é o cenário mais provável, porque apesar do choque no mercado de crédito o consumo está se mantendo forte e ele responde por ¾ do crescimento americano. Ele acha que o processo de desvalorização do dólar em relação a outras moedas ainda não acabou.
Sobre o risco de os desequilíbrios da economia americana contaminarem o resto do mundo, ele lembra as mudanças na estrutura econômica mundial.
— Os quatro países, Brasil, Índia, China e Rússia, representam metade do crescimento mundial. Essa é uma mudança importante no mundo.
Perguntei que papel o FMI pode ter num mundo em que os países emergentes estão tão bem e o provoquei com a tese de que o Fundo não é mais necessário: — Choques sempre vão ocorrer, o que pode mudar é a natureza dos choques. O papel do Fundo é duplo: continua sendo de fazer monitoramento individual nos países, mas ao mesmo tempo ver os canais de transmissão das crises entre os países. O mundo está mais interdependente e isso torna mais importante trabalhar pela estabilidade global.
Anoop Singh disse que ainda é cedo para se entender perfeitamente a crise no mercado imobiliário, mas já há lições a tirar sobre a necessidade de mais transparência das agências de avaliação de risco, mais clareza na separação entre os agentes no mercado para evitar conflitos de interesse, mais compreensão das ligações entre as economias: — Num mundo assim, aumenta a importância das agências multilaterais como o FMI.
Entrevista:O Estado inteligente
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