Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 06, 2007

Luiz Garcia - Copa e voto




O Globo
6/11/2007

Se o pessoal não mudar as regras do jogo, o governo Lula passará três anos preparando o Brasil para a Copa do Mundo de 2014, e seu sucessor terá três anos e meio para acabar o trabalho.

Na área estadual, os governadores dos grandes estados que serão sedes óbvias de grupos terão o mesmo tempo. Outros precisarão investir na esperança de terem suas capitais escolhidas, o que só acontecerá em dezembro do ano que vem.

A festa é cara. Exige investimentos maciços para eliminar problemas históricos. Fazer ou reformar estádios e construir alojamentos e áreas de trabalho para atletas e jornalistas é o menor dos problemas. O Rio provou isso no Pan-Americano. E teve uma dose de sorte em áreas potencialmente cruciais, como segurança pública e transportes. Na Copa, não dá para apostar em bênçãos emanadas do Corcovado.

Nos transportes, quem garante ligações aéreas impecáveis? Entre Rio e São Paulo, por exemplo? É uma dúvida importante, quando se sabe que o trem-bala entre Rio e São Paulo, orçado em US$9 bilhões, está fora de todas as previsões de recursos.

Em todas as áreas do campo, nesse jogo ninguém torce contra o time da casa. Mas não basta esperar que todo mundo sue a camisa. É preciso também cobrar que em Brasília e nos estados os preparativos da Copa não entrem no jogo eleitoral de 2010. Em outras palavras: fique de saída denunciado como jogo baixo e sujo qualquer tentativa de defender uma suposta necessidade de não tirar de campo, no fim do tempo regulamentar, os times que estarão trabalhando até então. Tanto os eficientes quanto os incompetentes.

Possíveis cenários incluem o uso da Copa como novo e poderoso argumento na pregação de um terceiro mandato para Lula, o que ele até agora garante não desejar. Pode estar sendo absolutamente sincero - por enquanto. Em 2010, quem sabe?

Qualquer cenário serve para isso. Se tudo estiver correndo bem, defendem-se as vantagens de não se mexer em time que está ganhando. Caso contrário, usa-se o argumento de que o tempo gasto na instalação de uma nova administração agravaria todas as dificuldades.

Lula pode estar sendo sincero hoje, quando diz e repete que não quer saber de continuísmo. Mas quem garante que não pode ser convencido de que o Brasil precisa dele para garantir os preparativos para a Copa? As chances desse cenário hipotético seriam menores se o PT tivesse um ou dois candidatos fortes para 2010. Mas não tem.

No momento, tanto o presidente como os governadores têm pela frente o desafio de se dedicarem intensamente à preparação de uma festa em que seus sucessores dançarão a valsa e cortarão o bolo. E sem garantia de que os eleitos de 2014 serão companheiros de partido ou firmes aliados.

Enfim, oremos: que venham em 2014 uma copa e uma sucessão para sueco nenhum achar defeito.

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