O Estado de S. Paulo |
6/11/2007 |
Bem que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) advertira que novos estragos do estouro da bolha das hipotecas de alto risco (subprime) poderiam atingir o mercado financeiro. O comunicado do dia 31, emitido após a reunião que reduziu os juros básicos (Fed funds), dizia: “A decisão de hoje (corte dos juros de 0,25 ponto porcentual), combinada com a decisão tomada em setembro (corte de 0,5 ponto porcentual), deve ajudar a prevenir alguns efeitos adversos na economia mais ampla que poderiam, de outra forma, emergir das turbulências do mercado financeiro e promover crescimento moderado ao longo do tempo.” O Citigroup já havia acusado perdas de US$ 3,6 bilhões no terceiro trimestre. Ontem revisou para menos seu lucro no período e ainda pode admitir novo rombo entre US$ 8 bilhões e US$ 11 bilhões. Já mandou para casa seu presidente Charles Prince. Na semana passada, o Merrill Lynch havia apontado perdas de US$ 8,4 bilhões no trimestre, que levaram à queda do seu presidente Stan O’Neil. Mas, na sexta, o Deutsche Bank anunciou perda de confiança no Merrill Lynch e sugeriu que seria inevitável um corte de mais US$ 10 bilhões. Em 22 de outubro, o presidente do Fed, Ben Bernanke, confessou que não estava em condições de quantificar a desvalorização dos ativos imobiliários podres. Já se sabia que só três bancões americanos contavam com rombos muito maiores. No dia 23 de outubro, o Citigroup anunciou iniciativa conjunta com o Bank of America e o JP Morgan para criar um superfundo de US$ 75 bilhões, cuja função seria resgatar os títulos hipotecários micados. Foi considerada tentativa de fazer de trouxas os aplicadores, repassando-lhes o rombo que os bancos não queriam assumir. Estranhamente, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, apoiou a iniciativa. Depois, diante da gritaria em contrário, recolheu-se ao silêncio. Em todo o caso, os US$ 75 bilhões dizem alguma coisa. Outros gigantes em ativos e reputação ficaram avariados. Entre eles estão a União de Bancos Suíços (UBS), com perdas de US$ 4,4 bilhões, e o Credit Suisse, perdas de US$ 1,9 bilhão. Até agora não há indícios de que alguma grande instituição financeira esteja a perigo. Por enquanto só há notícias de mastros quebrados e avarias nos cascos. Em caso de ameaça de naufrágio, não faltará socorro oficial, ou do Fed ou do Tesouro americano. São transatlânticos cujo afundamento arrastaria uma frota financeira. Por isso são chamados de “grandes demais para fracassar” (too big to fail). Mas não dá para subestimar graves efeitos colaterais. Um deles é a provável aceleração da desvalorização do dólar ante as outras moedas fortes. As perdas acumuladas neste ano já são de 8,5% ante o euro, de 3,7% ante o iene, de 19,7% ante o dólar canadense e de 5,1% ante o franco suíço. Apesar disso, os países emergentes seguiram juntando reservas. Essa desvalorização deve levar os bancos centrais a apressar a diversificação desse patrimônio para ativos em outras moedas. O mercado de títulos do Tesouro americano não deve sair incólume. O outro efeito colateral é uma provável queda acentuada da atividade econômica nos Estados Unidos, com reflexo no resto do mundo. CONFIRA Como fica? - As turbulências nos mercados financeiros sempre afugentam os investidores para as aplicações de segurança. Só que hoje o conceito de segurança financeira está sendo questionado. Até aqui, as referências eram o dólar e os títulos do Tesouro americano. E vem perda - Mas a queda do dólar nos mercados embute risco cambial nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Uma desvalorização do dólar de apenas 4% pode levar embora o rendimento proporcionado pelos juros. O título continua seguro. Mas o que é um título sem riscos se apresentar rentabilidade negativa? |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 06, 2007
Celso Ming - Grandes demais para afundar
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