Às vésperas de novo pedido de cassação,
Renan Calheiros volta e tenta negociar mandato
Otávio Cabral
Montagem sobre fotos de Dida Sampaio e Beto Barata/AE, Paulo H. Carvalho/CB, Lula Marques/Folha Imagem |
Renan Calheiros e os postulantes à sucessão: Garibaldi Alves (noalto), Gerson Camata (à esq.) e José Maranhão – enrolado com bois |
Depois de passar quinze dias afastado para tratar da saúde, o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros, reapareceu no Congresso. Sem a pompa que o cargo lhe proporcionava, o senador parecia outra pessoa. Mais gordo, o que lhe deu um aspecto bonachão, mostrou-se simpático com os colegas, humilde com os funcionários e afável com os jornalistas. Que ninguém se engane. É apenas uma mudança de tática. Nos bastidores, Calheiros continua utilizando todas as armas de que ainda dispõe para tentar salvar o mandato. Isso porque, na próxima quarta-feira, o senador Jefferson Péres vai apresentar o relatório final sobre o processo que apura o envolvimento dele numa sociedade comercial clandestina em Alagoas. Péres contou a três parlamentares ter encontrado provas suficientes para pedir a cassação do senador por quebra do decoro parlamentar. Com o poder diminuído, acuado por acusações diversas e abandonado por uma parcela do PT, Renan agora tenta se safar usando como trunfo a própria sucessão.
O senador Calheiros já se comprometeu a renunciar definitivamente ao cargo de presidente e trabalhar pela eleição de um sucessor, assim como ele, servil ao governo. Em troca, quer a garantia de que não terá o mandato cassado. Há dois problemas na estratégia montada pelo senador. O primeiro é que ninguém, por enquanto, dá sinais de querer avalizar uma operação tão vergonhosa. O PT fez isso no caso do lobista que pagava as despesas de Renan, e senadores respeitados, como Aloizio Mercadante, por pouco não caíram em desgraça com seus eleitores. Depois, o governo não tem certeza se Renan Calheiros ainda tem poder para influir decisivamente na escolha do sucessor. Sabe-se que ele pode atrapalhar muitos candidatos, graças à infinidade de dossiês de que dispõe contra os colegas, o que lhe confere poderes especiais. Além disso, são poucos os candidatos do PMDB aptos a preencher o cargo. Alguns porque não querem. A maioria porque não pode. Cientistas políticos destacam que, por tudo o que se viu até agora, o futuro presidente não pode estar envolvido em nenhuma suspeita de corrupção. A restrição fulmina grande parte dos parlamentares do PMDB. Há duas semanas, aliados do senador José Maranhão lançaram seu nome à sucessão. Horas depois se descobriu que ele, assim como o amigo Renan, era dono de um patrimônio bovino, construído no período em que governou a Paraíba. É na montagem desse quebra-cabeça que Renan Calheiros tenta influir em busca de um indulto.