Alberto Tamer
EUA PESAM NA ÁSIA
A novidade da semana foi o alerta do Ministério do Comércio da China sobre as conseqüências da crise imobiliária - e um menor crescimentos nos Estados Unidos - nas exportações chinesas.
Após permanecer em silêncio, apenas observando o cenário americano, pela primeira vez a China vem a público, e com palavras duras. "Se a demanda dos Estados Unidos cair ainda mais, as exportações chinesas serão devastadas por uma rápida e continuada queda de encomendas", afirma a nota do ministério.
Isso pesará muito no comércio bilateral, pois as exportações representam mais de 33% do crescimento econômico chinês e 10% do PIB, uma situação radicalmente diversa de há quatro anos, quando não contribuíam com nada, acrescenta a nota. O documento nega também o comentado "desligamento" asiático da economia americana.
O Financial Times de sexta-feira lembra que os Estados Unidos absorvem 20% de todas as exportações chinesas, o segundo importador, após a União Européia.
E, aqui, acrescentamos, o cenário não é nenhum pouco animador, pois os europeus estão prevendo ações comerciais restritivas contra a China, que ostenta um superávit comercial de US$102 bilhões até agosto.
EUA IMPORTAM MENOS...
O banco central chinês também veio confirmar as previsões pessimistas do Ministério do Comércio. De acordo com ele, cada 1% de recuo do PIB americano deve provocar uma redução de 6% das exportações chinesas (para os Estados Unidos.)
E isso já vem ocorrendo; desde a crise imobiliária, as exportações desaceleraram 12,4%.
...MAS A CHINA EXPORTA MAIS
Mesmo assim, porém, as exportações chinesas para o mundo continuam aumentando e já passam de US$ 1 trilhão. O superávit comercial, lembra o Financial Times, com base em dados públicos oficiais, chegou a US$ 27 bilhões em outubro e US$ 212,4 bilhões em dez meses.
BANCO MUNDIAL OTIMISTA
Outro relatório sobre a Ásia e a economia mundial divulgado na semana passada foi o do Banco Mundial. Para a instituição, a economia dos países do Leste Asiático, excluindo o Japão, deve crescer 8,4% este ano, bem acima da previsão feita em abril, de 7,4%. Dessa forma, a região completará três anos consecutivos de crescimento acima de 8%.
Os economistas do banco admitem que o preço do petróleo e a crise imobiliária nos EUA aumentaram significativamente os riscos, mas, observam, um estudo das crises anteriores mostra que mesmo um crescimento americano de 0% (ante o atual 2%) tiraria apenas 1% no crescimento do Leste Asiático. Para o Banco Mundial, a economia americana só deverá crescer 1,9%. "Isso será significante, mas não um desastre", afirma o relatório.
Incluindo o Japão e a Índia, a Ásia deve crescer 8,3%, também acima da previsão anterior, de 7,6%.
E NÓS?
Para o Brasil esses cenários apontam para oportunidades e desafios. A oportunidade é de atrair mais investimentos asiáticos com a redução de espaço que eles deixam de ter nos EUA e na Ásia. Somos pequenos no contexto mundial e devemos ousar em busca desses capitais ociosos; e eles crescem na medida em que as reservas cambiais dos países asiáticos, mais de US$ 1,3 trilhão, continuam aumentando.
Mais ainda, com desaceleração americana ou não, a China está crescendo 11% este ano, o que a obriga a importar mais alimentos, matérias-primas e minerais, que possuímos.
O desafio vem da diversificação das exportações chinesas como reação à desaceleração do comércio com os Estados Unidos. Eles já anunciaram e estão pondo em prática uma agressiva política de diversificação das exportações, para ocupar mais espaço nos países onde já estão fortemente instalados; é o caso do Brasil, como tem comentado esta coluna.
Nossas exportações para a Ásia, como um todo, incluindo China e Índia, são simplesmente irrisórias, cerca de meros US$ 20 bilhões, que se chocam com o mais de US$ 1 trilhão que eles importam.
Na verdade, os asiáticos, principalmente os chineses, estão ocupando o nosso mercado, o que não seria tão negativo, pois o baixo preço dos seus produtos ajuda a conter a inflação, desde que contrabalançássemos com um aumento das nossas vendas para os seus mercados. Mas não é isso o que está acontecendo; eles continuam aportando aqui, e nós ainda mal começamos a chegar lá.
O Brasil deverá crescer 5% este ano, apesar desse cenário mundial de retração, porque o mercado interno está se expandindo e as exportações de produtos primário continuam sustentando a economia; mas nossa expansão no mercado externo é ainda tímida e temos agora o imenso desafio da nova valorização do real, que estamos tardando muito a enfrentar. E, sem expansão para o exterior, a economia poderá não manter a taxa de crescimento atual.
A crise americana nos incomoda, mas ainda não atrapalha - desde que ocupemos o espaço no mercado mundial que ainda nos espera.