Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 18, 2007

DORA KRAMER Por que falas?

De duas, uma: ou o presidente Luiz Inácio da Silva tem algum plano na cabeça, e está testando possibilidades, ou deixa prosperar as especulações sobre sua intenção de continuar no poder porque não tem nada mais interessante a dizer e precisa manter o clima de expectativa de poder em torno de sua figura, a fim de evitar o clima de fim de festa nesses três últimos (?) anos de mandato já contaminados pelo processo da sucessão.

Uma hora chama os arautos do terceiro mandato e manda enterrar o assunto, na seguinte sai em defesa da democracia estilizada de Hugo Chávez de maneira absolutamente desnecessária, fazendo a alegria do ditador que logo trata de exibir ao mundo o aval do brasileiro aos seus métodos e atraindo para si suspeitas de que pretenda recorrer a expedientes semelhantes de relacionamento com a massa, boa parte dela, ignara.

Lula deve achar graça quando se apontam suas confusões sobre sistemas de governo como sendo fruto de ignorância ou incapacidade lógica para concatenar idéias e expor raciocínios.

Não que seja um ás em ciência política, mas sabe perfeitamente bem a diferença entre a prolongada permanência de governantes em países parlamentaristas, em ditaduras institucionalizadas e em nações reféns de estratagemas populistas e autoritários onde os direitos das minorias e o funcionamento das instituições são vítimas de um longo processo de estrangulamento.

Lula tanto sabe isso quanto sabe fazer o tipo grosseirão sem estudo nem domínio do idioma para determinadas platéias, e se comportar no limite do protocolo, inclusive falando direito o português, quando diante de públicos mais exigentes. Em geral, no exterior.

O presidente da República pode não ter (e não tem) compromisso com o que diz, mas - e até por isso mesmo - é um mestre na arte do ilusionismo. Leva as pessoas na conversa, e quando parece não dizer coisa com coisa aí é que se deve prestar atenção, porque, no mínimo, alguma impressão está interessado em transmitir.

Sua insistência em pôr na mesma condição Chávez e Felipe González, ou Margaret Thatcher, por exemplo, não é um devaneio. Fosse erro puro e simples, da primeira vez, corrigido, inclusive pela assessoria, teria mudado de conversa.

Ao persistir não o fez por burrice, porque deste mal não sofre. Alguma intenção tem. Só para raciocinarmos por analogia: quando do escândalo do mensalão, o presidente Lula não misturou caixa 2 com corrupção por ausência de discernimento, mas por excesso de cálculo.

Conseguiu inocular na percepção geral a tese da farinha do mesmo saco, que assim pode ser traduzida: se todos podem, também posso.

As semelhanças porventura depreendidas pelo leitor, tudo leva a crer, não são meras coincidências.

Cada qual

O presidente vê contradição entre a opinião dos governadores do PSDB, favoráveis à aprovação da CPMF, e a posição dos senadores do partido, majoritariamente contrários. Para ele, os chefes de executivo deveriam querer o mesmo.

Só que entre a política dos governadores, referida na administração, e a política dos parlamentares, pautada pelo embate de forças, há diferenças como, de resto, mostrou o PT quando na oposição.

Durante os oito anos de governo tucano os governadores petistas dos dois mandatos - Cristovam Buarque (DF), Vitor Buaiz (ES), Jorge Viana (AC), Olívio Dutra (RS) e Zeca do PT (MS) -, à exceção do gaúcho, mantiveram as melhores relações com o governo federal.

Nem por isso as bancadas do PT na Câmara e no Senado deixaram de cumprir seu papel de oposição. Não raro levando o legítimo dever de se opor aos píncaros da irracionalidade.

Por exemplo, ao votar contra as reformas, a abertura da economia, o plano de estabilização econômica, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o fundo para o ensino fundamental e várias medidas mais que hoje permitem ao PT governar um País razoavelmente integrado à idade moderna.

O partido fez oposição, cumpriu seu papel, e o governo, quando precisava, cumpria o seu: tratava de arrumar votos para aprovar os projetos que a função e a eleição o obrigavam a executar.

Lula, em tese, hoje tem ainda mais condições de fazer isso - sem a necessidade de transferir responsabilidade à oposição - porque dispõe de uma coalizão de 11 partidos. Cabe a ele ter competência para administrar a tropa e discernimento para distinguir os papéis de cada um.

Que será, será

O governador de São Paulo, José Serra, prefere que Gilberto Kassab seja o candidato de uma aliança PSDB/DEM em 2008, isso é sabido. O plano inclui até a vaga de vice para o tucano Andréa Matarazzo, todo-poderoso chefe das subprefeituras.

Agora, se Geraldo Alckmin insistir, Serra não brigará. Mas também não subirá em palanque de nenhum dos dois. Isso a preço de hoje, naturalmente.

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