Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 18, 2007

Celso Ming

Não têm essa força toda


Afinal, para que serve mesmo um banco central?

O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, tem feito reiteradas declarações de que, fiel ao sistema aqui adotado, seu principal objetivo é enquadrar a inflação dentro da meta. Não cuida do crescimento econômico, não se mete em questões fiscais, não é diretamente responsável pelo que acontece nos mercados financeiros de risco (como, por exemplo, ações e imóveis) e não tem meta para o câmbio.

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tem duplo mandato: assegurar crescimento econômico e controlar a inflação, que não deve ultrapassar os 2% ao ano, como informalmente ficou consagrado.

No entanto, nos três últimos meses, o Fed colocou de lado esses propósitos institucionais e tratou de apagar o incêndio que se alastrava com a crise dos mercados. No seu pronunciamento no Clube de Economia de Nova York, no dia 15 de outubro, o presidente do Fed, Ben Bernanke, esclareceu que, em certas circunstâncias, a prioridade é mesmo bombear dinheiro vivo para os mercados, sem olhar demais para os objetivos previstos na lei: "Promover estabilidade financeira e funcionamento ordeiro dos mercados financeiros é função-chave dos bancos centrais."

Em nenhum momento Bernanke temeu ser responsabilizado por ter deixado para depois o duplo mandato de que foi investido para atacar algo um tanto subjetivo, como a insegurança que rondava então os mercados.

E agora, à medida que o dólar vai derretendo, o Fed começa a ser empurrado para outra tarefa: refortalecer a moeda americana, por meio da alta dos juros. Se isso for feito, outra vez uma das prioridades da lei, que é garantir mais crescimento econômico, terá sido deixada para depois.

No passado, Alan Greenspan, o presidente anterior, se meteu a fundo não só em questões de política fiscal, como também no funcionamento dos mercados de risco. Em 2001 ele defendeu publicamente a devolução de receitas de impostos promovida pelo governo Bush. Antes disso, orientou os políticos sobre como deveriam ser usadas as sobras de recursos que começaram no governo Clinton e deveriam se estender para os anos seguintes. Ninguém se esquece de como Greenspan se envolveu desde 1996 no processo que culminou no estouro da bolha das ações ponto.com, em 2001, e de como denunciou com todas as forças a "exuberância irracional" do mercado de ações.

Por aí já se vê que os políticos e os atores econômicos esperam dos bancos centrais muito mais resultado do que eles podem proporcionar. Não lhes passa pela cabeça que os mercados financeiros ficaram muito maiores do que a capacidade dos bancos centrais de controlá-los. E cobram deles objetivos contraditórios a partir do manejo de um único dispositivo: a máquina de injetar e de retirar dinheiro do mercado, mais conhecida como política monetária ou política de juros.

Dada essa limitação instrumental, grande parte do efeito desejado só pode ser obtida com o poder de convencimento emanado pela autoridade investida no cargo cujo maior capital é credibilidade. Paradoxalmente, presidentes de bancos centrais não são eleitos pelo povo, de onde emana todo o poder - como dizem as constituições do Ocidente.

Confira


Velho mantra -
Sexta-feira, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, repetiu o discurso de todos os secretários do Tesouro americano: "O dólar vai se recuperar; vai voltar à força de longo prazo. Temos uma política do dólar forte e isso é do interesse da nossa nação." Mas Paulson não deu nenhuma indicação de como o dólar voltará a ser o que era.

Vai piorar - Outra afirmação de Paulson soa como advertência: "Algumas partes do mercado das hipotecas de alto risco (subprime) vão piorar antes de começar a melhorar." E nada mais acrescentou.

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