"Nossos indicadores mostram uma falta generalizada de confiança nas instituições públicas, atribuída à falta de ética pública e à ineficiência burocrática", responde sem meias-palavras a economista Irene Mia, responsável pela América Latina na edição de 2007 do Relatório de Competitividade Global elaborado pelo WEF. Também preocupam o WEF "as grandes deficiências do sistema educacional". "O Brasil somente conseguirá utilizar todo o seu potencial competitivo no momento em que enfrentar esses problemas diretamente", adverte Mia.
Os entraves burocráticos, que tolhem a atividade empreendedora, estão entre as causas conhecidas de nosso atraso. Os problemas educacionais igualmente são citados entre os fatores que impedem o crescimento mais rápido da economia. Mas poucas vezes analistas estrangeiros falaram de maneira tão direta - embora usando eufemismos como "falta de ética" - do impacto negativo da corrupção envolvendo as autoridades brasileiras nas decisões do empresariado e, por isso mesmo, no ritmo de crescimento e de modernização da economia. Os desmandos na gestão do dinheiro público não apenas impõem custos para os contribuintes; eles comprometem a competitividade da economia brasileira.
A conseqüência, como apontou a economista Irene Mia, é que, "apesar do potencial de seu grande mercado doméstico, de sua base industrial diversificada e dos avanços significativos para melhorar a gestão das contas públicas, o Brasil continua atrás dos mercados mais dinâmicos no ranking de competitividade do WEF".
A classificação brasileira é, mais uma vez, decepcionante. Numa lista de 131 economias, o Brasil ocupa a 72ª posição. No relatório referente a 2007, que acaba de ser divulgado na Suíça, foram incluídas mais seis economias, e Sérvia e Montenegro, analisados como um único país em edições anteriores, foram desmembrados. Esta é a principal explicação para o recuo de 6 posições do Brasil na classificação.
Mesmo, porém, excluindo-se as novas economias da lista, a posição brasileira piorou, da 66ª posição em 2006 para a 68ª. É um recuo pequeno, mas, considerando-se que a posição do ano passado já não era boa, ele mostra que conseguimos piorar.
Muito à nossa frente estão os outros três membros do Bric, países de grande potencial de crescimento: China (34ª), Índia (48ª) e Rússia (58ª). Também na comparação com outras economias latino-americanas a posição do Brasil é desconfortável, pois à nossa frente estão Chile (26ª), Porto Rico (36ª), México (52ª), Panamá (59ª), Costa Rica (67ª) e Colômbia (69ª).
Para estabelecer essa classificação, o WEF levou em conta 12 itens: instituições, infra-estrutura, estabilidade macroeconômica, saúde e educação primária, educação superior e treinamento, eficiência do mercado, qualidade da mão-de-obra, sofisticação do mercado financeiro, preparo tecnológico, tamanho do mercado de consumo, sofisticação empresarial e inovação.
Não há dúvida de que, em alguns desses itens, a posição brasileira é boa. Mas, na média, o quadro é o que o relatório aponta, ruim para o Brasil.
Elaborado com o objetivo de identificar os principais fatores que determinam o crescimento econômico e explicar por que alguns países têm mais êxito do que outros nos planos social e econômico, o relatório do WEF tornou-se uma importante fonte de informações para os investidores. Por isso, suas conclusões precisam ser examinadas também pelos governantes.