Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 17, 2007

Celso Ming E o álcool já subiu


Ainda faltam algumas semanas para o início da entressafra da cana-de-açúcar e, no entanto, os preços do álcool já começaram a subir nas usinas.

Entre o dia 7 de outubro e 9 de novembro, o álcool anidro ficou 18,2% mais caro. E o álcool hidratado, 23,8%. São estatísticas da Esalq/BM&F.

Todos os anos é a mesma coisa. No Centro-Sul, a safra começa em abril e termina em dezembro. Mas o setor ainda não aprendeu a lidar com a escassez sazonal.

A resposta para isso é fazer estoques para continuar escoando o produto enquanto as usinas estiverem paradas. Mas o setor continua pouco empenhado nisso.

Ele está sendo beneficiado pelo forte aumento da procura. Hoje, nada menos que 86,5% dos veículos novos estão equipados com motores flex fuel, capazes de operar tanto a álcool como a gasolina. A frota flex mais a de carros exclusivamente a álcool alcança hoje cerca de 6 milhões de veículos, ou 28% do total. Na atual relação de preços, o proprietário não tem dúvidas, prefere rodar com álcool.

O usineiro argumenta que a possibilidade de escolha do consumidor é um freio natural para a remarcação de preços. Se passar do ponto, o proprietário do veículo muda para a gasolina. Mas ele também se queixa de que essa é também uma limitação para investimento em estocagem para a fase de entressafra, porque a vantagem que obteria ao vender álcool mais caro na entressafra não compensa o custo da formação de estoques.

Os empresários não se dão conta de que o desgate de imagem por que passa o produto pela precariedade da estocagem trabalha contra seu futuro.

A produção física de álcool cresceu 62% nos últimos seis anos. Veja o gráfico.

A Range Fuels, empresa sediada em Broomfield (Connecticut), Estados Unidos, está se preparando para produzir inicialmente 75,6 milhões de litros de etanol (para uma capacidade total de 378 milhões), não de milho ou de cana-de-açúcar, mas de cavacos e outros tipos de biomassa.

Notícias desse projeto foram dadas nesta coluna dia 3 de março. As informações de que esta fábrica, a primeira em escala comercial, vai começar a funcionar no ano que vem está na última edição da Technology Review.

Seu processo tem duas fases. A primeira é a de gaseificação, que converte biomassa em uma mistura de hidrogênio e monóxido de carbono (singás). Em seguida, esse produto é submetido a um processo catalítico que o converte em álcool.

A maior parte dos custos do projeto da Range Fuels está sendo financiada por verbas oficiais fornecidas pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos. Isso já é indicação de que a iniciativa privada está longe de ter chegado a um processo industrial capaz de competir com o álcool de milho, que, por sua vez, tem um custo duas vezes mais alto do que o custo do álcool de cana-de-açúcar produzido no Brasil.

De todo modo, os americanos saíram na frente nesse processo, embora o Brasil tenha enormes disponibilidades de bagaço de cana que poderia ser usado em escala muito maior do que a biomassa que vai servir de matéria-prima para produção de etanol de celulose nos Estados Unidos.

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