O senador Jarbas Vasconcelos admite a existência de “robustez” na suspeita de que o cenário aponta para uma absolvição do senador Renan Calheiros no julgamento marcado para o próximo dia 22.
Ao mesmo tempo, agarra-se à tese de que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar e considera pouco provável que o Senado se preste ao “erro” pela segunda vez em tão pouco tempo.
Refere-se, evidentemente, à sessão de 12 de setembro último onde ele foi absolvido da acusação de uso de dinheiro de origem indevida para pagar a pensão da filha com a jornalista Mônica Veloso.
Na opinião do senador, há realmente um sentimento de compadecimento e resistência em aplicar a pena capital da cassação, mas ele enxerga algumas diferenças entre o clima atual e os acontecimentos de 12 de setembro.
A saber: a sessão aberta, os votos favoráveis ao parecer pela cassação dados pelo PT no Conselho de Ética, a firmeza recém-adquirida do PSDB, notadamente do líder do partido, Artur Virgílio, a ausência do “fator Mercadante”, que no primeiro julgamento se movimentou durante toda a sessão (secreta) buscando votos contra a cassação e a impossibilidade de o governo atuar em favor de Calheiros de forma clara sem correr o risco de criar atritos com a oposição em tão delicado momento de tramitação da CPMF.
“O PT foi fundamental da primeira vez e não é crível que o partido, em tão pouco espaço de tempo cometa de novo uma extravagância daquela natureza”, argumenta.
Na opinião dele, o Senado em geral e os petistas em particular, ficariam numa situação “estapafúrdia” diante da opinião pública, dado o escore de goleada (11 a 3) da votação no Conselho de Ética.
“Como os partidos poderão votar diferente no plenário?”, pergunta.
Com todo o respeito pela fé do senador no discernimento e na coerência dos colegas, o histórico fornece a resposta: votando.
E depois, lógico, cada um tratando de tirar o respectivo corpo fora, pois o voto continua secreto graças à ausência total de empenho de senadores e deputados em fazer andar duas emendas constitucionais - uma em cada Casa - já em condições de ir aos plenários instituindo o voto aberto.
Ademais, o Palácio do Planalto e o PT não andam a exibir constrangimento com a versão corrente sobre a orientação de salvar o presidente licenciado. O presidente em exercício do Senado, Tião Viana, inclusive, difunde a idéia de que uma possível cassação do senador Renan Calheiros poderia prejudicar a aprovação da CPMF.
Se é assim, por que não adiar a sessão de julgamento por quebra de decoro para depois de resolvido o assunto do imposto, a fim de evitar a contaminação de uma votação pela outra?
Só há uma resposta: porque o objetivo é exatamente usar a CMPF como pretexto para preservar o mandato e os direitos políticos do senador.
Mas Jarbas Vasconcelos acha que um adiamento seria pior. “As coisas ruins tendem a se incorporar à paisagem com o passar do tempo, sendo recebidas com a naturalidade que uma absolvição hoje ainda não tem.”
É uma visão. Um tanto romântica, possível, mas improvável de acontecer.
Gato escaldado
O senador Aloizio Mercadante emergiu do primeiro julgamento de Renan Calheiros como o grande artífice da absolvição. Absteve-se, justificou-se e pagou um preço político alto. Não quer correr risco de novo.
Por isso, cancelou presença na comitiva de quatro senadores que viajam hoje para os Estados Unidos em missão parlamentar junto à ONU nos dias 19 e 20.
Eles saem de lá no dia 21 e chegam ao Brasil na manhã de 22. A tempo de participar da votação do processo por quebra de decoro, à tarde. Mas Mercadante achou melhor não ir para não arriscar ausência.
Ouvidoria
Ao mesmo tempo em que promete, nas negociações com sua base aliada pela aprovação da CPMF, mandar uma proposta de reforma tributária ao Congresso até o dia 30 de novembro, o presidente Lula informa que pretende discutir a reorganização dos tributos com o movimento sindical.
Então não pretende fazer reforma tributária. Todas as reformas submetidas à apreciação dos sindicalistas saíram da discussão com o carimbo de arquive-se: Previdência, legislação trabalhista e estrutura sindical.
Defesa atômica
O general José Benedito de Barros Moreira defendeu na televisão que o Brasil se prepare tecnologicamente para ter uma bomba atômica que funcione como “cadeado” na proteção dos recursos naturais do País.
Não faz muito, quem defendia essa tese era gente meio amalucada. O falecido Enéas Carneiro, por exemplo, a incluiu em sua plataforma nas várias candidaturas à presidência da República.
O general que agora defende a bomba é secretário de Política, Estratégias e Relações Internacionais do ministério da Defesa.