Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 18, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

Olha o coração, doutor

Augusto Nunes

"O que mata é mau humor", vive avisando o doutor Adib Jatene, para quem a melhor maneira de prevenir enfartes está no binômio serenidade e sorriso. Por conhecerem a receita prescrita pelo grande cardiologista, muitos participantes do jantar promovido em São Paulo, no fim de semana, para abrandar o raquitismo financeiro do Incor espantaram-se com a cena improvável: de pé, rosto crispado, dedo em riste apontado para o alvo do pito, Adib Jatene era a personificação da fúria.

Tudo por causa da CPMF, revelou na terça-feira a colunista Mônica Bergamo. O copo até aqui de cólera transbordou no instante em que Jatene - criador do imposto do cheque em 1993, quando era ministro da Saúde - topou com Paulo Skaf, presidente da Fiesp e defensor da extinção do tributo.

"No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, nós concordamos com o fim da CPMF!", comunicou o médico ao empresário. Nós, quem?, decerto teria aparteado um representante da classe média - se houvesse espaço para gente assim no jantar que cobrou R$ 250 só pelo convite.

E, também, se houvesse pausas na procissão de exclamações. "O Brasil é tão desigual porque os ricos não pagam impostos!", diagnosticou Jatene. "Tem que pagar para distribuir renda!". Faz sentido, concordaria o emissário da classe média, condenada a pagar despesas alheias.

Sem tempo a perder com as aflições da grande ausente, Skaf limitou-se a constatar que é "muito alta" a carga tributária. "Não é, não!", cortou Jatene. "É baixa! Tem que pagar mais!". É provável que o pai do imposto estivesse alvejando, de novo, o bolso dos ricos. Como se não fosse um deles.

Abstraída a condição de profissional liberal, o homem que tudo sabe das coisas do coração parece ignorar que nada o vincula à classe média de verdade. Esse universo é habitado por brasileiros que, enquanto juntam centavos para pagar as próprias contas, sustentam governos perdulários.

Pelo preço que cobra por consulta, pela fortuna que custa cada cirurgia, Jatene está dispensado de conferir canhotos do talão de cheques. Pelos sobrenomes da clientela, têm pouca intimidade com contribuintes que estão fora da lista do Bolsa Família, mas nem ousam sonhar com vagas na lista de um jantar para 400 passageiros da primeira classe.

Os contribuintes comuns não sabiam que o imposto inventado para socorrer o sistema de saúde pública, como assegurou o então ministro, acabaria desviado para o ralo da gastança federal. Confiantes na palavra de Jatene, acreditaram que o P da sigla era mesmo a inicial de "provisório". Também confiaram no PSDB quando o partido jurou sepultar o tributo que ajudara a nascer. E acreditaram que o PT cumpriria, no poder, a promessa de liqüidar a cobrança inconstitucional.

Atormentados pela suspeita de que a gatunagem disfarçada de imposto vai continuar, as vítimas deveriam ser poupadas do falatório do parteiro da idéia. É o tipo da coisa que piora o humor de qualquer um. Isso mata, doutor Jatene.

Cabôco Perguntadô

A máfia usa Rolex, soube o Cabôco por um site do PT, que ilustra a revelação com fotos dos chefões presos na Itália: pendurados nos pulsos da turma, reluzem relógios dessa marca. Luciano Huck usava um Rolex no dia do assalto, lembrou o texto do site. Che Guevara usava dois no dia da morte, informou o colunista Elio Gaspari. Curioso com a excitação dos companheiros, o Cabôco quer saber o real significado da descoberta. Huck é mafioso ou a máfia vai financiar a reativação da guerrilha?

O fiasco em Santiago

No momento do contundente cala-boca com que o rei Juan Carlos lhe impôs o nocaute, Hugo Chávez esmurrava às cegas encostado nas cordas, abalado por uma boa combinação de golpes desferidos pelo primeiro-ministro José Luis Zapatero. Chávez voltara a acusar de "fascista" o ex-chefe de governo José María Aznar quando levou o jab na testa. "Podemos ter pontos de vista opostos à ideologia de alguém, e não serei quem estará próximo das idéias de Aznar, mas ele foi eleito pelos espanhóis", surpreendeu-o Zapatero.

Ao insistir em alvejar o inimigo ausente, o venezuelano descuidou-se do baço. "Para sermos respeitados, não podemos nunca desqualificar quem pensa de outra forma", bateu ali o espanhol. A pancada seguinte acertou o fígado de Chávez: "A democracia é o respeito a todas as idéias. O insulto, não".

Na terça-feira, dias depois do fiasco em Santiago, o derrotado jurou não ter sentido o soco no queixo que liqüidou a luta. "Não ouvi o que disse o rei", garantiu. Quem beija a lona freqüentemente esquece o que aconteceu.

Fatos fuzilam a tese do cartola

Coronel da reserva da PM paulista, ex-secretário nacional de Segurança Pública e consultor do Banco Mundial, José Vicente da Silva divulgou há dias números inquietantes sobre a violência no país. Nos últimos cinco anos, por exemplo, foram assaltados mais de 200 mil brasileiros e quase 20 milhões sofreram algum tipo de roubo. Autor da tese segundo a qual o que acontece aqui acontece em qualquer lugar, o cartola Ricardo Teixeira está convidado a revelar quem concorre com o Brasil nessa modalidade da bandidagem.

Yolhesman Crisbelles

A taça vai para Nelson Jobim, pela sinopse dos capítulos incorporados pelo feriadão à novela do apagão:

"Haverá problemas de acúmulos porque, observem, o fluxo dos nossos aeroportos, dos nossos terminais, não é bom. Ainda não conseguimos resolver o problema do fluxo e a concentração, mas a segurança está mantida e eu espero que, não havendo nenhum problema meteorológico, inclusive nós possamos ter um grau de regularidade razoável".


Arquivo do blog