Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 13, 2007

FERNANDO GABEIRA Chuvas de verão

NOS VERSOS da canção, são passageiras como os ressentimentos. Apesar disso, as chuvas de verão, presentes em nossa poesia e indicando a repetição mecânica da natureza, elas nos enganam. Nunca serão as mesmas. Neste ano, por exemplo, estão dois fenômenos: um permanente, o aquecimento global, outro periódico, o El Niño. Uma das minhas dívidas com o aquecimento global foi não ter enfatizado que suas conseqüências já se manifestam agora, logo, é preciso adaptar, progressivamente, nossas cidades e também o campo.
Trabalhei esse tema em Petrópolis, onde defendi, em algumas palestras, um projeto de adaptação da cidade às mudanças climáticas. Em 2004, foi possível divulgar os planos de sustentabilidade de algumas cidades. O de Seattle é para ser desenvolvido em 20 anos. Quanto a El Niño, houve, no Congresso, uma comissão para estudar o tema, e foi produzido um relatório com muitas sugestões. No entanto, não me antecipei a El Niño pedindo que neste ano, pelo menos neste, não contigenciassem verbas. Quando ele acontece, intensificam-se no Sudeste, e agrava a seca no Nordeste. Faltou dinheiro para a água. Poderíamos ter previsto.
Muito menos pude indicar esta nova inflexão na abordagem do aquecimento global, centrada apenas na redução de emissões. As conseqüências já estão aí, logo, é preciso se preparar para elas. O descuido com a conjugação dos dois fenômenos só se justifica pelo duro fim de 2006 -da crise aérea ao aumento salarial no Congresso. Sonho com superar logo esse permanente estado de crise para poder planejar e olhar alguns passos adiante. Se isso não for possível, será preciso aprender a planejar, apesar das crises. É pau, é pedra.
As mudanças climáticas são também um problema democrático. Nova Orleans foi um exemplo, a carga maior sobre os mais pobres. Nesse momento, quem está se movendo é a Europa, por meio de seu plano diante do aquecimento global. A idéia é de inspirar uma nova revolução industrial. Essa nova economia, acredito, deveria dar uma grande importância à energia solar. Solar num sentido mais amplo, incluindo biocombustíveis. Para o Brasil, o aquecimento não pode ser visto apenas como um castigo mas também como uma possibilidade. Não posso descuidar dele em 2007.
Comecei escrevendo quinzenalmente, agora por semana. Quando estiver escrevendo diariamente, favor avisar se não estou exagerando.


gabeira@netbotanic.com.br

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