Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 21, 2007

ELIANE CANTANHÊDE "Contaminação"



BRASÍLIA - "Há cinco anos, eu estava sozinho. Éramos eu e o Fidel. Agora, já tenho comigo Lula, Kirchner, Evo, Tabaré e Ortega", me disse Chávez numa conversa rápida em que ficou uma dúvida: o que significa "já tenho comigo"?
Há cinco anos, os presidentes eram mais formais, os discursos só enfatizavam a economia e o comércio (com concessões à "preocupação social"), e o Brasil sempre parecia imperar sobre os demais. Muita coisa mudou, ou parece estar mudando. Os presidentes são o indígena Evo Morales, o peculiar Kirchner, o "socialista desde os 16 anos" Tabaré Vázquez, o jovem economista de esquerda Rafael Correa e até uma mulher, Michelle Bachelet. E Lula não impera.
Chávez ameaça fechamento econômico e endurecimento político, mas está, sim, "contaminando" os vizinhos -no mínimo, pauta seus discursos. Todos ajustaram tom e prioridades aos de Chávez, o que equivale dizer: à esquerda. Uns porque já eram, outros porque viraram (caso de Kirchner). E ambicionam ampliar as fronteiras e os propósitos do Mercosul. Criado como um fim em si mesmo, hoje o bloco é um trampolim para a união de toda a América do Sul, quiçá (um dia...) da própria América Latina.
E os propósitos evoluem para algo que parece meramente retórico, mas pode não ser: novas formas de desenvolvimento, integração, ajuda mútua, disputa de mercados, tendo como alvo real a inclusão social, não num país, mas em todos.
Os resultados da 32ª Reunião de Cúpula do Mercosul foram objetivamente pobres. A Bolívia não foi incluída, o Paraguai e o Uruguai só levaram "peanuts" para casa, não houve nenhuma surpresa.
Mas ficou uma certeza: alguma coisa acontece na América do Sul. Pode não ser o "socialismo do século 21" de Chávez, até porque ninguém sabe que bicho é. Mas é algo certamente voltado para a maioria, não para teorias e tecnicidades.

Arquivo do blog