Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Clóvis Rossi - A realidade é uma tela




Folha de S. Paulo
19/1/2007

É um instantâneo, em ponto pequeno, do mundo moderno: indianos e britânicos descobrem, simultaneamente, que há racismo no Reino Unido. Pena que o fizeram não olhando a realidade, mas um "reality show", que é show, mas não é realidade.
Refiro-me, para quem não leu, ao caso do "Celebrity Big Brother", do Canal 4 britânico. Nele, uma atriz indiana, Shilpa Shetty, "celebridade de Bollywood", o centro cinematográfico da Índia, conforme relata Marco Aurélio Canônico, foi ofendida por três outros participantes.
Mandaram-na "morrer na favela", de onde supostamente teria vindo (o que não é verdade), e atacaram seu inglês supostamente pobre (o que também não é verdade).
O escândalo foi tamanho que a primeira página de ontem do "Financial Times" abre espaço para a queima de um boneco (não dá para distinguir de quem ou do quê) realizada por manifestantes na Índia. É o último lugar do mundo em que eu poderia imaginar encontrar coisas do "Big Brother".
Deu perguntas ao primeiro-ministro Tony Blair, no Parlamento britânico, e ao futuro primeiro-ministro, Gordon Brown, hoje chefe do Tesouro, na Índia. Tudo bem, racismo é mesmo abominável. Mas, caramba, será que é preciso ver cenas explícitas de racismo na TV para descobrir que ele existe e é prática cotidiana em quase todas as partes do mundo?
Qualquer um que já tenha feito escala no aeroporto de Heathrow já viu ou foi vítima do chamado "racial profiling", ou seja, uma maior vigilância sobre pessoas de cor mais escura, sejam indianos, paquistaneses, árabes, latino-americanos de origem indígena ou diretamente negros.
Mesmo quando há funcionários do controle de passaportes que também têm pele escura. Será que está se tornando verdade a afirmação de que só existe o que passa na TV?

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