Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 16, 2006

ZUENIR VENTURA O duelo da segurança O Globo



Já que o seqüestro dos profissionais da TV Globo e a divulgação do manifesto dos bandidos significaram uma mudança de patamar do crime organizado, como admitem especialistas, os dois fatos acintosos poderiam servir também para pelo menos, em contrapartida, elevar o nível do debate e das preocupações dos políticos em relação ao tema. É o mínimo que se espera. No entanto, enquanto entidades e associações da sociedade civil, indignadas, mobilizamse para discutir, apontar caminhos e exigir soluções contra a escalada da violência, da boca dos candidatos a presidente da República — para só ficar nos dois primeiros colocados nas pesquisas — têm saído apenas acusações mútuas, propostas eleitoreiras e medidas pontuais. Nada em seus programas que se pareça com um projeto político consistente para a Segurança Pública.

Em 2003, o governo Lula até que parecia ter optado por realizar uma ampla reforma policial, ao prometer implantar o Sistema Único de Segurança Pública e fazer cumprir nas penitenciárias a Lei de Execuções Penais. Logo achou que não compensava politicamente e preferiu enterrar o projeto; nunca mais falou no assunto. Só depois da primeira onda de atentados é que o tema voltou às pressas a freqüentar o Palácio do Planalto.

O PSDB de Alckmin, por sua vez, que durante doze anos governou São Paulo, chegou a apresentar como atração inicial de sua campanha o que anunciava como grandes conquistas: redução dos índices de violência no estado e esmagamento do PCC. Em algumas semanas, os bandidos mandaram esses factóides para o ar.

A partir de então foi o que se viu: um tiroteio em que imperou a baixaria. O último capítulo aconteceu anteontem, quando ACM relacionou o seqüestro dos jornalistas ao desempenho ruim de Lula no “Jornal Nacional”. “É muita coincidência o PCC fazer isso depois da entrevista da Globo”, ele estranhou sem dizer por quê. Pode-se imaginar o que vem por aí no horário eleitoral.

Nos bastidores das campanhas, deve estar havendo um grande corre-corre dos marqueteiros para inventar formas que compensem a falta de idéias e de projetos de seus candidatos. Não há dúvida de que no item segurança pública correse o risco de assistir a um emocionante duelo entre o que um deixou de fazer no país e o que o outro disse ter feito, mas não fez em São Paulo.

A artista plástica Thereza Miranda se superou ao imortalizar numa imensa gravura (Galeria 90 — Arte Contemporânea) o inconfundível recorte de montanhas que formam o perfil visual do Rio.

A Cidade Maravilhosa agradece.


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