Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 22, 2006

Luiz Garcia - Reclamações & explicações




O Globo
22/8/2006

Seguidos assaltos a turistas, principalmente o assassinato de um adolescente português na areia de Copacabana, provocaram nos últimos dias uma discussão muitas vezes mais emocional do que sábia. Tanto da parte que cobrava como da que se explicava.

Talvez não pudesse ser diferente: medo e indignação podem provocar protestos compreensíveis, mas não obrigatoriamente inteligentes. Pode-se dizer o mesmo de muitas das respostas de autoridades.

Não parece razoável, por exemplo, definir como fator importante no problema da segurança a quantidade de pessoas sem teto na Zona Sul. Um ou outro desabrigado pode ser assaltante disfarçado de mendigo, ou ladrão ocasional. Mas a maioria é de famílias, muitas sem ânimo sequer para pedir esmolas. O pior que nos fazem é nos jogar na cara nossa incapacidade de eleger autoridades estaduais e municipais que enfrentem o problema social com um mínimo de eficiência.

Até algum tempo atrás, especialistas no assunto diziam que boa parte da população de rua morava em subúrbios distantes - e só tinha dinheiro para ir para casa nos fins de semana. Hoje, pelo número de famílias nos bairros mais ricos sábado e domingo, parece que aqueles mendigos foram substituídos por moradores permanentes das calçadas. Ou seja, o problema ficou muito mais grave.

Também parece que desapareceu até mesmo a encenação de esforços oficiais para recolher as famílias e submetê-las a um programa de ressocialização. Que fim levou, por exemplo, a Fazenda Modelo, administrada pela prefeitura? Talvez não faça falta: mesmo quando operava a pleno vapor, jamais teve índices de eficiência minimamente razoáveis.

Enfim, o povo que dorme nos túneis e em soleiras de portas mais nos envergonha do que ameaça. E a PM está certa quando afirma que não pode prender meninos e adolescentes só porque estão sujos e mal vestidos (embora tenha a obrigação de agir se os encontra cheirando cola ou roubando).

Para nativos e turistas, o maior perigo vem de assaltantes ocasionais (como o rapaz drogado que matou o menino português porque queria dinheiro para comprar cocaína) e de quadrilhas organizadas - às vezes muito bem organizadas. No primeiro caso, por definição é difícil imaginar ações preventivas eficientes. No segundo, elas são óbvias e obrigatórias. Os bandidos vão em busca dos turistas - surpresa, surpresa! - nos pontos turísticos da cidade.

A polícia tem certamente o direito a alegar que não pode estar na cidade toda. Mas é duro engolir que visitantes sejam atacados numa manhã de sol, ao saírem das Paineiras ou chegarem à Vista Chinesa. Os assaltantes sabem que suas vítimas mais atraentes são encontradas em lugares como esses. Como a polícia pode não saber?

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