Reeleição significa, na prática, mandato de oito anos com um plebiscito no meio. Ao fim de quatro anos, o governante dirige-se ao eleitor e pergunta se ele gostou de seu governo. Se gostou, reelege. Se não gostou, muda. Simples assim.
Por isso mesmo, é muito desigual a disputa em que um dos candidatos busca a reeleição, seja prefeito, governador ou presidente da República. Ainda mais no Brasil, com o farto uso da máquina pública em favor do governante de plantão, chame-se ele Luiz Inácio Lula da Silva ou Fernando Henrique Cardoso.
Isto não significa, no entanto, que a reeleição esteja garantida. Os exemplos mais próximos, de Marta Suplicy em São Paulo, em 2004, e de George Bush pai, derrotado por um obscuro governador do obscuro estado do Arkansas (Bill Clinton) em 1992, mostram que não existem favas contadas.
Mas é preciso que algumas condições se verifiquem. Por exemplo, uma crise econômica muito séria, que desperte o eleitorado da inércia e o faça buscar outras opções. Ou ainda uma profunda crise moral e ética, que retire do governante que tenta a reeleição condições mínimas de legitimidade para exercer um segundo mandato. Ou ainda mais, uma profunda crise política, que também inviabilize a reeleição.
Mas não basta. Mesmo com a ocorrência de uma ou de todas as crises acima listadas, é preciso que o principal candidato de oposição se apresente como alternativa real. Caso contrário, os eleitores preferem arriscar mais um mandato.
Alckmin não conseguiu, até agora, apresentar-se como alternativa verdadeira. Não se consolidou como o anti-Lula.
Não pode desfraldar a bandeira da ética porque tem três bolas de ferro nos pés. A recusa do PSDB em punir o senador Eduardo Azeredo, beneficiário do esquema de corrupção de Marcos Valério, acabou caindo no colo do candidato tucano.
Como o PSDB pode cobrar ética do PT se não puniu o seu senador beneficiário do valerioduto?
A segunda bola de ferro é a mal explicada história da destinação de recursos da Nossa Caixa, o banco estadual, a aliados selecionados do governador. Não dá para atacar o aparelhamento da máquina pública pelos petistas, nem a apropriação do aparelho de Estado pela sanha companheira, quando se tem um passivo desses.
E a terceira bola de ferro é, não vamos nos esquecer, o guarda-roupas da primeira-dama paulista. Tenham sido 400 vestidos ou 40, não se pode acusar o governo Lula de não saber distinguir o público do privado quando os vestidos de madame cismam de sair do armário para assombrar o candidato.
Alckmin tampouco pode se apresentar como campeão da gestão depois que a incompetência do governo paulista na questão da segurança pública passou a ser exposta de forma tão dolorosa. Sim, o combate ao crime organizado tem que ser uma cruzada nacional, mas o governo Alckmin não fez sua parte.
Finalmente, não dá para acusar o governo Lula de abafar CPIs e atrapalhar investigações. Não dá quando o governo Alckmin tratou as CPIs na Assembléia Legislativa como todos os Executivos tratam, isto é, abafou o maior número possível.
Em suma, Alckmin está sem discurso para combater o governo Lula. Está sem partido, porque os tucanos parece já terem jogado a toalha. Está sem aliados, porque a Pefelândia também não parece disposta a arregaçar as mangas.
Mesmo com tudo isto contra, se Geraldo Alckmin tivesse o carisma pessoal de Lula, ainda poderia se fazer ver como o anti-Lula. Mas não é caso do candidato tucano.
Quem está começando a ser vista como o anti-Lula é a senadora Heloísa Helena. Mesmo perdendo, vai arrebanhando os insatisfeitos pelo caminho. Está fazendo uma bela jornada.