FOLHA
O eleitorado não reflete só o agravamento de sua repulsa aos políticos. Há mais sob o alheamento do eleitorado
TUDO SE PASSA COMO se os candidatos e as eleições, de um lado, e os eleitores, de outro, não tivessem absolutamente nada a ver uns com os outros. E, no entanto, estamos a apenas 41 dias das urnas. Nem na ditadura se passou algo assim, quando mesmo as eleições mais desprezíveis sensibilizavam grande parte dos eleitores, para os diferentes votos de protesto democrático.
Mas o eleitorado não reflete só o agravamento de sua repulsa aos políticos, por obra das ordinarices de valerioduto petista, caixa dois, mensalão, sanguessugas, turma ou bando (investigações devem responder) da mansão de Palocci, quase todos os envolvidos outra vez expondo a desfaçatez com as candidaturas. Há mais sob o alheamento do eleitorado. E pior.
É na percepção de que a importância maior das eleições está na escolha do presidente que começa, no eleitorado, a outra e mais grave razão do seu descaso. Expressa em frases deste gênero, se ocorre falar do voto:
"Fazer o quê? Votar no Lula mesmo, não tem alternativa." / "No Lula eu não voto (ou "não voto mais"), na Heloísa Helena não adianta, sobra o Alckmin." / "Eu voto na Heloísa Helena para protestar contra o Lula".
O que se verbaliza assim é a sensação de falta de saída. O desalento com a percepção da mediocridade oferecida como quadro de opções. É o sentimento humilhante de que a classe política, a elite intelectual, o empresariado e as tais organizações da sociedade civil são cada vez mais inúteis, diante das derivas do país.
Entre 126 milhões de cidadãos habilitados a votar e a ser votados, essa classe dominante não foi capaz de produzir três ou quatro candidatos capazes, ao menos, de dar ao eleitorado o sentido de representação autêntica das suas aspirações.
A adulteração que Lula personifica, desde que evidenciou a trapaça a que seu eleitorado foi submetido em 2002, recebe dele a chancela definitiva com a exclusão, em sua propaganda, da cor e até da sigla do partido fundado por ele próprio. O candidato Lula oficializa para os eleitores: apagou todo o passado.
Não se sabe o que Alckmin pensa sobre nenhuma das questões relevantes. Suas curtas e poucas frases não exprimem idéias nem opiniões. E, se indagado sobre o assunto que mais deveria ter preparado, vai dançar entre respostas como "esses crimes em São Paulo têm motivação eleitoral", "meu governo implantou um sistema penitenciário eficiente e de combate ao crime", mas "segurança é problema do presidente". Até quanto ao nome é indefinido: Alckmin onde quer que seja conhecido, na sua propaganda adotou Geraldo. Genial.
Não se sabe se a atriz Heloísa Helena é a fera que agitava o Senado ou a gatinha que mal mostra as unhas como candidata. Mas não desdiz o que dizia, uma vantagem que atrai e que afasta votos, sem que suas também obscuras soluções sejam discutidas. Cristovam Buarque tem razão quanto ao papel determinante da educação, mas nem o explica bem, nem considera que os demais problemas pedem trato imediato. Nenhum dos dois disse ainda a que veio. Só o eleitor desalentado dá resposta à altura do seu papel.
Entrevista:O Estado inteligente
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