A violência com que o ministro Tarso Genro partiu para cima da senadora Heloísa Helena é demonstração eloqüente da crescente preocupação dos estrategistas da campanha do presidente Lula com o surpreendente desempenho da senadora nestes primeiros dias de campanha.
A desenvoltura de Heloísa Helena, que está aproveitando com enorme sucesso a exposição diária na mídia, em condições de igualdade com os outros candidatos, ameaça dar muita dor de cabeça ao PT e ao presidente Lula.
Em primeiro lugar, Heloísa Helena era um dos “de dentro”. Petista histórica, foi expulsa do partido, num episódio que contou com a participação decisiva do então tesoureiro Delúbio Soares, do então ministro José Dirceu e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Heloísa Helena é um arquivo vivo. E não parece disposta a manter em segredo aquilo que sabe. Daí a preocupação dos petistas em demolir a credibilidade da senadora.
Ninguém deve se assustar se vier novamente à baila o episódio da cassação do ex-senador Luiz Estêvão e a participação de Heloísa Helena. A turma não brinca em serviço.
Mas o crescimento de Heloísa Helena assusta, porque coloca em xeque a intenção de Lula de liquidar a fatura no primeiro turno.
Ainda não é possível afirmar que haverá segundo turno. Mas já não é mais possível afirmar que não haverá.
É aí que o bicho começa a pegar. Reeleição é plebiscito. Se o eleitorado gostou dos quatro anos anteriores, reelege o governante. Se não gostou, muda.
Um governante que busca reeleição, seja presidente, governador ou prefeito, precisa ser reeleito no primeiro turno, sob pena de entrar no segundo turno derrotado. Isto porque um segundo turno significa que mais da metade do eleitorado não gostou de seu primeiro mandato e não votou nele. No mínimo. quer pensar um pouco mais.
Segundo turno começa a colocar caraminholas na cabeça do eleitor. “E se eu tentasse uma coisa diferente?”, começa ele a se perguntar.
Governante que busca a reeleição e vai para segundo turno tem que dar entrevistas, participar de debates, explicar o que fez e o que não fez durante o primeiro mandato, falar sobre os fracassos, e não apenas sobre os sucessos.
Enfim, tudo o que o PT não quer que Lula faça. E isto o partido deixou claro ao construir os tais dez mandamentos para orientar o comportamento de Lula na campanha.
Não está garantido que governante que vai para o segundo turno seja derrotado. Marta Suplicy e Raul Pont foram para segundo turno e terminaram derrotados.
Mas Mário Covas foi para o segundo turno em 1998, atrás de Paulo Maluf. Covas jogou a questão ética no centro dos debates e transformou a eleição numa disputa de caráter. Aí ganhou.
Tudo o que o PT não quer é que um eventual segundo turno seja transformado numa disputa de caráter. Tudo o que o PT não quer é ver a questão ética no centro dos debates desta campanha eleitoral.
Daí por que o “fator Heloísa Helena” está tirando o sono dos estrategistas da campanha do presidente Lula.
Enviada por: Ricardo Noblat