Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 17, 2006

Guilherme Fiuza Perdeu, Fred. Perdeu

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Fred D’Orey é um empresário do bem, um batalhador, um carioca elegante. Ficou famoso como surfista – numa época em que isso não era fácil – e depois fez mais sucesso ainda à frente da grife Totem. É um cara com estilo – e isso não é pouco. Mas na hora da indignação, Fred, como acontece com muita gente boa, chutou a bola para fora.

Assaltado por uns moleques de fuzil na Linha Vermelha, Frederico D’Orey resolveu dar o seu grito de basta. A capacidade de reagir, o inconformismo, é fundamental para que as sociedades oprimidas (no caso, pela violência) não fiquem também anestesiadas. A boca no trombone é um capítulo essencial da civilidade.

Mas também é preciso examinar o som que sai do trombone. Soprar com força, simplesmente, pode gerar só barulho e distorção. Foi isso, infelizmente, o que saiu do trombone de Fred.

Num manifesto indignado distribuído pela internet, e fartamente replicado, ele diz não ter raiva do garoto que roubou seu carro e seu dinheiro. É uma vítima do sistema, raciocinou. Também não está zangado com os policiais que nada fizeram em sua defesa. Também são vítimas. E de quem é a culpa, então? Fred explica: dos políticos.

Caríssimo Fred, você jogou sua indignação no lixo. A generalização que você faz “dos políticos” é o que pode haver de mais primário e estéril na reação de um cidadão. Saiba que entre “os políticos”, além dos corruptos que você vê nas manchetes, há também gente séria, batalhadora como você, com uma ampla ficha de conquistas em seu benefício e do seu país.

A maioria é corrupta? Pode ser. Mas, e a maioria dos empresários? É do bem, como você? E como você se sentiria vendo um político dizer que a culpa pelo fracasso do sistema é “dos empresários”?

Fred, a luta pela liberdade de expressão, que te permite criticar publicamente quem você quiser, foi ganha – e é ganha a cada dia – também “pelos políticos”. A batalha épica contra a inflação, que certamente ajudou seus negócios, foi ganha – e continua a ser travada – também “pelos políticos”. A própria reação à corrupção – que envolve também empresários, policiais e ladrões de carro – tem contado com a contribuição de uma boa fatia “dos políticos”.

Essas generalizações passionais são a melhor receita para a paralisia. Seu “basta” será mais um basta a se desmanchar no ar, meu caro. A não ser que você tenha uma boa idéia.

Você acha que paga impostos demais e eles não são bem aplicados? Por que, em vez desse brado pueril de imposto zero, você não usa a sua notoriedade para apoiar o Instituto de Planejamento Tributário – uma entidade que trabalha sério para achar uma saída inteligente para essa orgia de taxas e contribuições que sangra o país?

Por que você não propõe uma rede voluntária de fiscalização das vias públicas, organizada por empresários modernos em cooperação com o poder público, permutando por exemplo mão-de-obra jovem por bolsas de estudo?

Sei lá, Fred. O Betinho teve uma idéia. A Zilda Arns teve uma idéia. Você também pode ter, e nem precisa ser tão revolucionária quanto as deles.

O seu prestígio e a sua criatividade te credenciam a pensar muito maior. Porque gritar contra “os políticos”, meu caro, é a melhor receita para manter tudo exatamente como está.

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