Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, agosto 14, 2006

Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro: Tudo dominado - 14/08/2006

Ao descer o morro do Vidigal, numa manhã, o blindado do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) trouxe sete fuzis e uma metralhadora a tiracolo e deixou oito corpos para trás. Os homens de preto haviam terminado a missão de intervir num confronto na favela que matou 16 só esse mês.
Seria uma manhã como dezenas de outras no Rio após uma operação policial em favela, mesmo com o número elevado de baixas do lado do tráfico, não fosse o entusiasmo de alguns moradores. "Caveeeeira, Caveeeeira!", gritavam em saudação ao blindado.
Os repórteres desconfiaram da manifestação pró-PM. Normalmente, o que acontece após uma ação é um monte de mães e irmãs se atirar à frente das câmeras gritando que era "tudo trabalhador!".
Não era. Dessa vez era "tudo alemão" -gíria que nas favelas denomina inimigo. Por inimigo aí, entenda-se integrantes do CV (Comando Vermelho) que invadiram o Vidigal, território do ADA (Amigo dos Amigos). Na prática, o Bope ajudou o "governo" local a rechaçar os "alemães", uma vez que só matou de um lado, daí os aplausos. Os mortos eram mercenários do CV recrutados em vários morros da cidade. Três deles eram do Chapéu Mangueira, no Leme.
Tanto que uma enorme faixa preta foi desfraldada na favela em luto por seus "soldados" mortos. Entre os quais, um jovem de classe média de Copacabana que fugira de casa para se alistar ao tráfico.
Os homens do Bope, que costumam se exercitar cantando que sua missão é "deixar corpos no chão", dessa vez haviam feito "a coisa certa", pelo menos para os moradores de uma favela, conformados com um tipo de gestão do tráfico implementado por crias do morro.
E a gente ainda tem que dormir com um barulho (de tiros) desses.

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