Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 13, 2006

DORA KRAMER Alckmin belisca, mas não morde

Tucano não quer atacar muito, para não fazer de Lula o personagem principal
ESTADO

A queda de Geraldo Alckmin nas últimas pesquisas ressuscitou entre os políticos as críticas à estratégia de campanha do principal candidato de oposição ao presidente Luiz Inácio da Silva, mas não abalou a convicção do responsável pelo esquema de comunicação e produtor dos programas do horário eleitoral gratuito do PSDB, Luiz Gonzalez.

Ele continua adepto da fórmula dos ataques moderados ao presidente, de maneira a não acentuar a sua condição de personagem principal da disputa. "Falar mal do adversário, principalmente quando ele aparece como favorito, põe o candidato em risco de brigar com o eleitor e faz dele um coadjuvante da disputa", diz Gonzalez, cujo roteiro de atuação continua inalterado.

Depois de amanhã estréia o primeiro programa do horário eleitoral e, nele, Alckmin pretende dizer quem é, sem maiores preocupações com o oponente.

No dia anterior, no primeiro debate promovido entre candidatos presidenciais, pela TV Bandeirantes, os tucanos acreditam na ausência do presidente - até porque eles mesmos já fizeram isso na campanha de reeleição de Fernando Henrique, em 1998, e agora na candidatura de José Serra ao governo de São Paulo - e nem acham muito ruim que isso aconteça.

Se houver uma cadeira vazia no cenário, o tucano fará referência à ausência do presidente e a imagem poderá ser utilizada no horário eleitoral como uma forma de dizer ao eleitor que Lula não foi ao debate porque não tem como, ou não quer, explicar as denúncias de corrupção contra o PT e o governo.

São três as fases a serem cumpridas na estratégia de comunicação: apresentar o candidato ao eleitor, mostrar suas idéias a ele e convencê-lo de que são as melhores soluções para o País.

Isso com o objetivo de chegar ao segundo turno. Como se fossem duas eleições: na primeira, Alckmin não pensa em ganhar, mas em ultrapassar a etapa inicial, e na segunda passa para o embate propriamente dito. "Se ao final do primeiro turno o eleitor estiver com a sensação de que há dois candidatos igualmente capacitados para ocupar a Presidência nos 4 anos seguintes, no segundo caberá a Alckmin mostrar que é o melhor para essa tarefa", diz Gonzalez.

Isso não quer dizer, entretanto, que o tucano fará uma campanha olímpica, sem ataques. Eles estarão sempre presentes, mas não como prioridade. Será como se Alckmin beliscasse permanentemente Lula, mas sem chegar a morder com força.

E nesta altura da história o leitor poderá se perguntar onde fica, na cabeça dos estrategistas da campanha tucana, a candidata do PSOL, Heloísa Helena, pois falam como se a senadora não existisse e, mais, não estivesse em trajetória ascendente em direção aos calcanhares de Alckmin.

Por enquanto, ali ainda se considera que quanto mais ela crescer melhor. Não se chegou ao ponto de avaliar, como parece lógico pelo andar da carruagem, que Heloísa Helena tire votos de Alckmin e possa representar uma ameaça. Ao contrário. A aposta é a de que ela "suma" à medida que a campanha vá avançando.

E não só porque dispõe de tempo muito reduzido (pouco mais de um minuto) no horário eleitoral, em relação a Lula e Alckmin, mas principalmente porque, de acordo com essa análise, ela agora é uma coqueluche, mas deixará de ser quando o eleitor começar a pensar mais objetivamente na escolha do próximo presidente.

A respeito da participação de Heloísa Helena corre uma piada na campanha do PSDB. É a do sujeito que no aeroporto é muito aplaudido quando reclama com veemência do atraso do vôo, uma vez no avião continua recebendo apoio dos passageiros quando protesta contra a qualidade da refeição servida, mas, quando faz menção de se dirigir à cabine para assumir o lugar do piloto, as pessoas param de achar graça e não o deixam ir adiante.

Assim o tucanato confia que ocorrerá com Heloísa.



Pressa

O ministro-relator dos processos contra os sanguessugas no Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em conversas com integrantes da CPI, manifestou disposição de acelerar os trabalhos de forma a chegar em dezembro com boa parte dos casos julgados.



Os mesmos

PTB, PL e PP são os partidos campeões de mensaleiros e sanguessugas. Ganham disparado na participação nos escândalos. Não por acaso foram os três que, em 2004, puseram a faca no peito do então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, contra a reforma política.

Na época, a proposta ganhava força dentro da Câmara e estava em boa parte pronta para ir à votação quando os líderes daqueles três partidos , o petebista Roberto Jefferson à frente, procuraram João Paulo com o seguinte ultimato: ou ele puxava o freio da reforma ou eles retirariam o apoio ao projeto de reeleição para a presidência da Câmara.

João Paulo - que viria a integrar o rol dos mensaleiros -, interessado em conquistar mais um mandato, cedeu em troca de votos. O resultado foi perda total: a tese da reeleição perdeu por 5 votos no plenário e a reforma política não voltaria à pauta.

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