Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 15, 2006

AUGUSTO NUNES Rondônia é o Brasil amanhã

JB

Coisas da Política
15/08/2006

Augusto Nunes
augusto@jb.com.br



Rondônia é o Brasil amanhã

Eram quatro os territórios no mapa da minha infância, quatro lonjuras na extremidade norte do país, quatro grotões coloridos pelo verde da Amazônia. No alto do Brasil, separados pelo Pará, penduravam-se o Amapá e Rio Branco, que depois virou Roraima. Na fronteira noroeste, tangido por terras da Bolívia e do Peru, forjava-se o Acre, vizinho das desolações do Guaporé que Juscelino Kubitschek rebatizou de Rondônia em homenagem ao marechal Cândido Rondon.

O desbravador dos sertões e das selvas não merecia tão iníquo troféu. Porque Rondônia se tornou Estado para livrar-se do passado de atrasos e pousar nos tempos modernos, mas chegou à maioridade sem autonomia financeira nem juízo. "É o Brasil do futuro", recitava a voz estridente da professora. Um futuro complicado, reafirmam descobertas recentes da Operação Dominó, mais uma proeza da Polícia Federal.

Dos 24 deputados estaduais, 23 têm culpa no cartório. Sobre o petista Neri Firigolo, único ausente das listas de pilantras, há controvérsias: acusado de patrocinar um funcionário fantasma, argumenta que não é bem assim. Na versão do empregador, o feliz apadrinhado apenas não tem hora certa para pegar no serviço ou voltar para casa.

A Polícia Federal pescou no lodaçal amazônico morubixabas do Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo. Estão presos o presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira, e o presidente do Tribunal de Justiça, Sebastião Chaves. O rombo nos cofres públicos é calculado, nas contas mais conservadoras, em R$ 70 milhões.

O horizonte promete todos os matizes do cinza. O prontuário do governador Ivo Cassol ameaça atirá-lo logo à lama comum. Investigações sobre lavagem de dinheiro e venda de sentenças envolvem multidões de juízes e promotores. Aparentemente, não houve limites para a roubalheira. Nem para a safadeza, sugerem as patifarias no Legislativo.

A professora do primário tinha razão: Rondônia é o Brasil amanhã. O andar da carruagem anuncia, para o segundo mandato de Lula, o sumiço dos homens honesto. E então o país estará reduzido a uma pátria dos bandidos.

Melhor chamar a polícia

E se os bandidos que seqüestraram o técnico Alexandre Calado e o jornalista Guilherme Portanova tivessem redigido um documento com teor ainda mais audacioso? Imagine-se, por exemplo, um texto que conclamasse os soldados do grupo criminoso a fuzilarem um grupo de juízes e políticos, localizados pelo nome e endereço. Seria veiculado?

Admitamos que sim. E se a isso sobreviesse outra imposição dos bandidos, agora forjada para propagar insultos a determinados governantes? A hipótese conduz a uma constatação inescapável: algum limite, num dado momento, terá de ser estabelecido. Mas como adivinhá-lo? Sobretudo, como demarcá-lo a tempo?

Ótimo que os dois alvos tenham escapado ilesos do ataque brutal. Ótimo que o recuo da Globo tenha tido como contrapartida a libertação do seqüestrado. Mas está evidente que negociar com criminosos não é coisa para amadores. Não é para parentes nem chefes hierárquicos das vítimas. O Jornal do Brasilrecusa-se a participar de transações do gênero. Prefere que policiais tratem disso.

Antes da decisão que atendeu à exigência dos delinqüentes, a Globo consultou especialistas em segurança. Deveria ter simplesmente chamado a polícia.

Arquivo do blog