Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 05, 2006

André Petry Até petista duvida

VEJA

O deputado Paulo Rubem Santiago é um petista da gema. Está filiado ao partido há 26 anos, foi deputado estadual em Pernambuco por oito anos e, agora, está no exercício de seu primeiro mandato como deputado federal em Brasília. Ele acaba de acender uma luz na escuridão. Depois de ouvir mais um depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, o maestro da orquestra dos sanguessugas, o petista pediu ao PT que abrisse uma investigação sobre outro petista. "Se as acusações forem comprovadas, o PT precisa expulsá-lo sumariamente, e não é medida propagandística. O PT não pode ficar de espectador", diz Santiago, que integra a CPI dos Sanguessugas.

Não é coisa comum. Em geral, petista acha que outro petista não pode nem ser investigado, como se estivessem acima do bem e do mal, acima dos mortais comuns. E o outro petista sobre quem se exige investigação também é da gema. Chama-se José Airton Cirilo. Já foi candidato ao governo do Ceará, já ocupou posto de comando numa agência reguladora no governo de Lula e pertence à direção nacional do PT. É candidato a deputado federal. E anda dizendo que, quando Lula visitar o Ceará, pretende subir em seu palanque eleitoral sem medo de ser feliz. Vai ser uma cena e tanto.

Quando VEJA publicou reportagem de capa sob o título "A lista da vergonha", com o devastador depoimento de Vedoin, ficou-se sabendo de detalhes da atuação de Cirilo na máfia dos sanguessugas. Ele é acusado de intermediar, junto ao Ministério da Saúde, a liberação de verba para a compra das ambulâncias superfaturadas. No seu périplo de sanguessuga, Cirilo é acusado de trabalhar ao lado de um assessor, José Caubi Diniz, e de um sobrinho, Raimundo Lacerda Filho. Cirilo admite que se encontrou algumas vezes com Vedoin, mas nega ter feito qualquer serviço – e nega com verve peremptória. Diz que a denúncia é "totalmente fantasiosa" e que é vítima de "uma campanha sórdida".

Pode ser. Mas Vedoin entregou agora à Justiça os fac-símiles reproduzidos neste texto. São trechos de sua planilha de controle, na qual ele registrava cada depósito em favor do assessor Diniz e do sobrinho Lacerda. Os depósitos não são apenas anotações, que Vedoin poderia ter inventado. Ele exibe os comprovantes dos depósitos registrados na planilha, o que dá ao papel uma solidez documental. Um detalhismo de lascar.

O primeiro depósito é de 1º de abril de 2003, no valor de 35 000 reais, para o sobrinho Lacerda. O segundo, também de 35 000 reais, saiu em 20 de abril, em favor do assessor Diniz. A ciranda vai até 5 de dezembro de 2003, quando 20 000 reais são enviados a uma empresa do sobrinho Lacerda, a MC Lacerda. Ao todo, a planilha lista 32 depósitos, que somam mais de 867 000 reais. Cirilo diz que o assessor e o sobrinho usaram seu nome para roubar.

Pode ser. A boa notícia é que, desta vez, até petista duvida.

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