Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 03, 2006

Alberto Tamer - Vem mais turbulência com juro americano




O Estado de S. Paulo
3/8/2006

E vai começar tudo de novo. Voltam as tensões em torno de mais um provável - alguns dizem quase certo - aumento da taxa básica de juros nos EUA. A economia americana intensificou os sinais de inflação maior, 2,4%, sem energia e alimentos, de acordo com o Fed (o banco central americano), mas estimada em mais de 4% incluídos todos os demais produtos. É o mais alto dos últimos quatro anos. A inflação chegou para ficar.

Esses indicadores colocam o Fed diante do velho desafio de como conter a inflação sem desacelerar ainda mais a econômica. A prioridade tem sido sempre a inflação, mas temos hoje um novo presidente que não é Alan Greenspan. Este já conhecíamos há mais de uma década. Ben Bernanke, não.

Ontem, o mercado financeiro já operava com a hipótese de um ajuste de mais 0,25 pnto porcentual na reunião do dia 8, encaminhando a economia para uma desaceleração ainda maior. O PIB já recuou de 5,6% no primeiro trimestre para 2,5% no segundo trimestre.

O QUE VEM NÃO AGRADA
Não há, num horizonte próximo, qualquer sinal favorável a uma retração das pressões inflacionárias. Tudo aponta no outro sentido. O caso do petróleo é especialmente delicado, pois surgem dois fatores que alimentam a especulação. A proximidade da época dos furacões no Golfo do México e a situação no Oriente Médio. Irã com a guerra do Líbano, sem dúvida alguma provocada por ele. No fundo, o que está havendo nesse conflito entre Israel e o Hezbollah, uma criação iraniana, é um confronto, uma guerra entre o Irã fundamentalista, a Síria, uma espécie de acecla dele, contra os EUA, aliados incondicional de Israel. Líbano e Israel são o campo de batalha dos aiatolás e o seu joguete, a Síria. Isso, mais a manobra nuclear iraniana, criou um clima de intenso nervosismo que eleva os preços do petróleo a níveis excessivamente elevados. Muitos analistas falam em preço médio da ordem de US$ 60, mas aqui entra o segundo fator de tensão.

LEMBRAM DO KATRINA?
Estamos entrando na fase dos furacões que mais atingem o Golfo do Mexico. Ninguém esqueceu ainda as conseqüências do Katrina. Esses fatores projetam um cenário de preços de petróleo elevados, em torno de US$ 70 ou mais, ainda por alguns meses - e atentem -, se nada de mais grave vier a acontecer no Oriente Médio. E lá está acontecendo tudo quase todos os dias.

E A INFLAÇÃO É GERAL
Sem dúvida alguma, os preços do petróleo deixaram de ser absorvidos pelas economias dos países consumidores; estão sendo agora sentidos nos EUA e espalham-se por outros países. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que congrega os países mais desenvolvidos do mundo, divulgou nesta semana balanço mostrando que, em junho, a inflação anualizada média dos 30 países membros ficou em 3,3% comparada com 3,1% no mês anterior.

É O PETRÓLEO?
Sim. "Os preços da energia subiram 16,1% nos últimos 12 meses, enquanto o dos alimentos, apenas 1,7%." Se adotar o critério do banco central americano, que exclui energia e alimentos no seu índice, a inflação teria ficado em apenas 2,2%. Mas, admite, essa exclusão pode ser válida apenas por um relativo espaço de tempo, pois o aumento de 16,1% nos preços da energia, no fundo, petróleo, está sendo repassado para todos os demais produtos industriais. Sinal disso é que os preços dos alimentos, menos dependentes do petróleo, pouco se elevaram.

HÁ ALIMENTO DEMAIS
Os EUA e a Europa têm registrado, em média, excelentes safras agrícolas, compradas a preços subsidiados, que estão abarrotando seus armazéns e formando enormes montanhas de grãos. São safras sobre safras... Em termos exclusivamente econômicos e não por politicagem interna, não precisariam continuar mantendo os elevados subsídios à agricultura e estimulando safras ainda maiores que geram e explicam o arraigado protecionismo e o bloqueio a qualquer aumento de importação e liberalização do mercado agrícola mundial. Muito ao contrário, eles, americanos e europeus, não só dificultam a entrada de produtos agrícolas externos, como subsidiam pesadamente suas exportações. Aqui, o impasse insolúvel.

ORA, ORA, NO RIO...
A propósito, um atento e perplexo leitor pergunta-me por que a madame Susan Schwab, negociadora comercial americana, se reuniu com o ministro Celso Amorim no Rio e não em Brasília... Foi pena que a jovem senhora não aproveitou sua estada para realizar a já tradicional "visita turística" às favelas do Rio que presidentes e até rainhas costumam fazer para mostrar sua solidariedade com a miséria dominada pelo crime.

É PARA PREOCUPAR
Concluindo, temos pela frente um cenário nada agradável de inflação em alta e juros elevados nos EUA e no mundo, apontando para crescimento menor, como já se revela na desaceleração do comércio mundial. Quanto ao Brasil... bem, neste caso os números não valem muito, são passageiros. Estamos num ano de eleição em que a economia passa a ser um corpo estranho utilizado como cabo na luta eleitoral...

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