Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 23, 2006

Luís Nassif - As inconsistências da macroeconomia

Folha de S. Paulo
23/6/2006

[A meta de inflação] é um modelo rígido, que não reage nem à taxa de
câmbio, nem à taxa de desemprego

No trabalho "Inconsistências e Insuficiências da Atual Política
Macroeconômica" -a sair na próxima edição da revista "Conjuntura
Econômica"-, o economista Yoshiaki Nakano persiste na tarefa de
demonstrar o parafuso sem rosca da política econômica brasileira.
Um dos pilares da política econômica deve ser equilíbrio interno e
externo. O equilíbrio interno é estabelecido com a demanda agregada
de bens e serviços igualando a oferta potencial, garantindo a
estabilidade de preços. O equilíbrio externo, pelo equilíbrio do
balanço de pagamentos de modo que eventual déficit (superávit) nas
transações correntes do país com o exterior seja coberto pela conta
de capitais com a entrada (saída) de capitais financeiros.
Para países desenvolvidos, os três instrumentos -política fiscal,
monetária e cambial- permitem alcançar três objetivos -estabilidade
de preços, transações correntes e conta de capitais-, ficando o
quarto -crescimento/emprego- fora das prioridades, já que se trata de
um problema do lado da oferta.
Já em regime de taxa de câmbio flutuante com livre movimentação de
capitais do exterior, escreve Nakano, a política fiscal deveria ser
alocada para manter o equilíbrio interno, a taxa de câmbio para
transações correntes e a taxa de juros para controlar/responder ao
movimento de capitais, segundo estudos de Robert Mundell no início
dos anos 60.
Por aqui, o superávit primário é instrumento de política fiscal com o
objetivo exclusivo de alcançar estabilidade de preços, pelo controle
das expectativas de médio e longo prazo.
Na política cambial, existe uma flutuação "suja". A taxa de câmbio
não tem papel de âncora nominal de preços, nem de instrumento de
geração de emprego e crescimento. Finalmente, na política monetária
de meta de inflação, a taxa de juros responde ao desvio da taxa de
inflação em relação à meta fixada pelo CMN. É um modelo rígido, que
não reage nem à taxa de câmbio nem à taxa de desemprego.
Com políticas fiscal e monetária alocadas para um mesmo objetivo -
estabilidade de preços-, com livre mobilidade de capitais e a
política monetária vinculada ao objetivo doméstico de meta de
inflação, a conta de capitais transformou-se num elemento
desestabilizador.
1) A elevação da taxa de juros para conter a inflação causa booms na
entrada de capitais, resultando em apreciação cambial. Cedo ou tarde,
trará desequilíbrio nas transações correntes do país com o exterior.
2) A apreciação da taxa de câmbio, ao reduzir a inflação, abre espaço
para queda da taxa de juros. A partir de certo nível, reduz ou
inverte o movimento de capitais provocando a depreciação cambial e
nova elevação dos preços clamando por nova elevação da taxa de juros.
3) Se a taxa de juros ficar elevada, não ajustada à queda na
inflação, pode-se desestabilizar o lado fiscal com aumento da dívida
pública. Existem três instrumentos para quatro objetivos de
estabilidade e, como a taxa de juros não é independente da taxa de
câmbio, o sistema não é estável, conclui Nakano. A íntegra do
trabalho está em www.dinheirovivo.com.br.

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