Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 15, 2006

A última: Lula “reeducou” a Petrobras! Por Rui Nogueira

Primeira Leitura

É a festa da demagogia sem limites e escrúpulos de nenhuma natureza!
Ou, como já disse Millôr Fernandes, a prova de que Lula é um homem
dependente de ignorância.

Ao longo de pelo menos duas semanas, depois dos ataques selvagens da
organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em São
Paulo, o presidente Lula apregoou um “revolução na educação” que o
governo dele teria promovido. Uma “revolução” tão profunda quanto
invisível, pois não encontra eco na realidade seja lá qual for o
ângulo pelo qual se analise ou se compare discurso e prática.

Nesta quarta, em São Gonçalo (RJ), Sua Excelência voltou a mostrar
que, na verdade, toma o discurso como prática. E disse que
desembarcou no município para uma nova “revolução”.

Pedradas eleitorais
Foi ao Estado do Rio para mais duas “pedradas eleitorais”, o que
ajuda a explicar por que a maioria da população (51%), segundo
pesquisa CNI-Ibope divulgada na terça-feira, diz que Lula é o
candidato que mais aparece no noticiário. Lançou a pedra fundamental
do pólo petroquímico de Itaboraí e a pedra não menos fundamentalmente
eleitoral do “Centro de Inteligência de São Gonçalo”, instituto
profissionalizante no setor. Antecipou o lançamento das “pedradas”
porque, a partir do próximo dia 30, ele não teria como disfarçar a
intenção eleitoral das duas solenidades.

O pólo petroquímico será um grande empreendimento envolvendo
Petrobras, grupo Ultra e BNDES. Mas nem tem terreno definido para
acolher a “pedrada eleitoral” do presidente. As obras começam no ano
que vem, mas, pelo discurso de Sua Excelência, cheio de hipérboles e
sinonímias, assemelha-se a algo do outro mundo. E a escola técnica
(Cefet), o tal “Centro de Inteligência”, também tem garantido –
palavra de presidente – apenas e tão-somente o terreno.

Mas o melhor do pior do presidente revelou-se nas duas referências à
Petrobras. O país ficou sabendo nesta quarta que a empresa estatal
brasileira foi “reeducada” pelo governo Lula para ser o que é. A
íntegra dessa revelação está aqui: “A Petrobras de vez em quando
resistia, porque ela teve uma orientação, não sei de que governo, de
que ela só deveria cuidar de prospecção de petróleo. E nós achamos
que a Petrobras é tão grande, é tão importante para o Brasil, a
Petrobras é um filho que todo mundo gostaria de ter, ela é uma
espécie de ‘Ronaldinho’ da indústria brasileira, é verdade. Então, a
Petrobras teve apenas que ser educada, apenas reeducar a Petrobras e
dizer para a Petrobras: querida Petrobras pense menos em você e pense
um pouco mais neste imenso país, pense menos em você e pense em 180
milhões de habitantes que moram neste país”.

A única coisa nova na gestão petista foi o uso eleitoral da estatal
pelo governo. "Nunca antes", como gostam de dizer o presidente e
petistas em geral, uma empresa foi tão reeducada para atender aos
interesses políticos de um governo: da publicidade ostensiva à
premiação de companheiros com cargos na estatal, a começar pelo
primeiro presidente nomeado, o senador e sindicalista José Eduardo
Dutra (PT-SE). Quando Lula já estava eleito, na fase de negociações
para a escolha dos primeiro e segundo escalões da administração
pública, era comum emissários de Lula visitarem companheiros a
premiar com um mapa de cargos na Petrobras debaixo do braço. A ordem
era escolher onde queriam ser aboletados.

Alguém sabe que “reeducação” foi essa?! Não, nem mesmo o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva sabe porque isso não passa de mais uma
entre as muitas balelas de seu governo. O que ele queria mesmo era
falar de “Ronaldinho”, não do Ronaldo que lhe aplicou uma chinelada
política na semana passada. Ele queria avisar que está com o
“Ronaldinho”, queria dar tchau a Ronaldo – usou, não serve, joga
fora. No mais, não há nada que Lula tenha reeducado, a não ser o
próprio PT. Não criou nada, o que só prova o quanto foi minimamente
eficiente o governo Fernando Henrique Cardoso, o grande vitorioso das
eleições de 2002. Repito o que escrevi ontem: o grande mérito de
Lula, diante da incapacidade de implantar um projeto de
desenvolvimento, foi não desmontar a herança da estabilidade
econômica. Como não há nada que este governo tenha criado e seja
minimamente comparável à gestão anterior, os desejos e promessas são
apresentados como "revolução". É preciso vencer ao menos na
propaganda. O que, reconheçamos, está dando certo.

Subindo o tom delirante, em São Gonçalo Sua Excelência foi adiante e
avisou o mundo de que “a Petrobras descobriu uma nova fonte
energética, uma nova matriz energética, que é o Hbio, que é a mistura
de óleo de mamona, de soja, de dendê, de girassol, no próprio
petróleo, para fazer um óleo diesel menos poluente, de melhor
qualidade do que o óleo diesel que a gente faz hoje”. Da mesma forma
que a história da “reeducação” da Petrobras serviu apenas para enfiar
“Ronaldinho” na conversa, a história do Hbio serviu tão-somente para
usar mais uma vez a palavra “revolução”. E Lula tascou sem pudor: “Eu
tenho dito que essa é a maior revolução energética. Enquanto os
países ricos, como os EUA, estão há 50 anos oferecendo ao mundo carro
a nitrogênio, nós estamos oferecendo carro com óleo de mamona, com
óleo de soja, com óleo de dendê, com caroço de algodão, coisas
produzidas por homens e mulheres do Brasil, colhidas por homens e
mulheres do Brasil”.

O PFL que não é PFL
O conjunto do discurso é uma mistura explosiva de mentiras com
ignorância. Carro a nitrogênio? Substituto do carro movido a
gasolina? A Petrobras, pura e simplesmente, não inventou o Hbio.
Assim como o Brasil não inventou o álcool combustível. O programa que
usou a cana-de-açúcar para produzir o álcool combustível é que foi
uma escolha estratégica acertada.

Mas a verdadeira “revolução” promovida nos palanques de São Gonçalo
foi outra. Ao se referir à prefeita do município, Aparecida Panisset,
Lula sovou politicamente a oposição: “A prefeita é do PFL,
entretanto, desde o dia em que eu conheci esta prefeita, eu percebi
que eu não estava lidando com uma prefeita do PFL, eu percebi que eu
estava lidando com uma prefeita que estava lá em Brasília,
reivindicando apenas os interesses do povo de São Gonçalo que a
elegeu. O prefeito Cesar Maia é do PFL, mas já me mandou duas cartas
e já fez uns dez discursos dizendo que nos últimos 36 meses, no meu
mandato, a cidade do Rio de Janeiro recebeu mais dinheiro do que nos
20 anos antes de eu ser presidente da República”.

Lula pode ser um demagogo, um líder dependente de ignorância, mas é
hoje, no cenário brasileiro, um animal político sem igual. Ninguém
achou a fórmula para desconstruí-lo; e ele sabe que a mídia olha para
suas lorotas como coisa eleitoral sem importância. Afora alguns
colunistas, ninguém trata suas ficções como o que elas são, ficções.
Lula trata a ficção com fato, mas o noticiário não afronta Sua
Excelência.

O que Lula diz não se explica, mas se escreve. Essa é a explicação
para o sucesso eleitoral de Sua Excelência.

[ruinogueira@primeiraleitura.com.br]
Publicado em 14 de junho de 2006.

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