Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 20, 2006

Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Cadê o azul? - 20/06/2006

Não se trata de fobia ao verde e amarelo, mas sinto falta do azul.
Deve ser culpa daquele verso de Castro Alves, "auriverde pendão da
minha terra", que um concurso por aí promoveu a verso mais bonito da
literatura brasileira. Houve também o movimento verde-amarelo, de
literatos que mais tarde tomaram rumos diferentes, alguns deles se
tornando comunistas -e outros, integralistas.
Mas sempre me pergunto: cadê o azul? Nossa bandeira, como a do
Fluminense, a do São Paulo, a da França, a da Itália e a de outros
clubes e pátrias, é escancaradamente tricolor. Tem uma faixa e
estrelas brancas, mas são acessórios: o visual que vemos e sentimos é
mesmo tricolor, o azul se destacando tanto ou mais do que o amarelo.
Em tempos de Copa do Mundo, o verde-amarelo simplifica as coisas,
mas, como toda e qualquer simplificação, torna-se simplório. Além do
mais, há outras bandeiras que têm o mesmo verde e o mesmo amarelo,
mas nenhuma delas traz o azul do nosso céu sereno, imaculado etc.
etc. -tal como antigamente aprendíamos no curso primário.
Não tenho vontade nem tempo para promover uma campanha que reabilite
o azul, integrando-o às nossas cores nacionais, obrigatórias e
facultativas, como nas torcidas pelo Brasil durante as Copas. Acho
que o azul melhoraria o nosso visual cívico e esportivo. Estou
fatigado de ver na TV, nas ruas e nos caminhos, sobretudo na
publicidade, as duas cores que retratam a beleza sem par de nossas
matas e a riqueza de nosso subsolo cheio de ouro -ouro que, segundo
os ufanistas, não acabaria jamais.
Nossas verdes matas estão sendo devastadas, e o amarelo do ouro foi
parar em Portugal e na Inglaterra. Sobrou-nos, afinal, o azul do céu,
um céu nem sempre sereno, mas sempre azul, a menos que venha uma
borrasca.

Arquivo do blog