O Globo |
1/6/2006 |
Dizem que o serviço do banco central é levar a bebida embora quando a festa alcança o auge. Pois ocorre que a economia mundial está numa farra de crescimento desde 2003 e os bancos centrais passaram o tempo providenciando carregamentos de champanhe. Com a notável exceção do BC brasileiro (que é outra história), as demais autoridades monetárias mantiveram juros baixos e crédito abundante, estímulo direto ao investimento e consumo. Mas como poderia ser diferente se não há inflação? De fato, os últimos quatro anos foram não apenas de crescimento forte e espalhado pelo mundo todo, mas também de expansão sem inflação, mesmo com as fortes altas dos preços do petróleo e de outras commodities e matérias-primas. Uma época gloriosa, portanto, pois esses aumentos de preços enriqueceram os países emergentes — todos reduziram fortemente suas dívidas externas — e não causaram inflação nos mercados dos países ricos. Ainda ontem, saíram dados mostrando que os países continuavam crescendo com vigor no primeiro trimestre deste ano. Índia, 9,3% sobre o primeiro trimestre de 2005, com inflação de 12 meses de 4,9%; Malásia, 5,3% de crescimento e inflação de 4,6%; Polônia, 5,2% e ridícula inflação de 0,7%. Entre parênteses, já se vê por aqui que o Brasil está na mesma onda, porém atrasado. A inflação está no padrão, mas o PIB cresceu 3,4% na mesma comparação. Voltando à questão mundial, a pergunta é a seguinte: se a festa continua, por que os mercados têm mostrado tanta instabilidade desde meados de maio? Porque baixou a dúvida. Até aqui o pessoal se comportava como se o mundo não apresentasse riscos. Era só investir, de preferência nos países emergentes, e passar depois para pegar o dinheiro. Reparem só neste dado. Até 30 de maio, a Bolsa de Valores de S. Paulo apresentava no mês uma queda de quase 10%. Mas, considerando de janeiro para cá, ainda há um ganho de 8,8%. Dá bem idéia de como havia sido forte a valorização. Em maio, porém, surgiram sinais e suspeitas de que a inflação pode estar disparando, nos Estados Unidos, essa economia de US$ 12,5 trilhões, um terço do produto mundial, e que vem sendo a principal força motriz do crescimento. Também surgiram sinais de que na União Européia e no Japão, as outras duas regiões mais ricas, os bancos centrais se preparam para apertar a política monetária, isto é, aumentar os juros e assim reduzir o ritmo de crescimento, prevenindo avanços da inflação. Ocorre, porém, que a dúvida central não está resolvida. Ainda ontem saiu uma ata do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, mostrando que instituição tem as mesmas dúvidas que os mortais. Não disse nem que a inflação alta está de volta, nem que não está. Na sua última reunião em 10 de maio, o Fed decidiu elevar a taxa básica de juros de 4,75% para 5% ao ano. Explicou na ata de ontem que os diretores debateram outras duas hipóteses: não elevar os juros, considerando que não havia ameaças inflacionárias; ou elevar para 5,25%, considerando que, sim, havia alguma ameaça de mais inflação. Ficaram no meio-termo e explicaram que isso traduzia o entendimento comum: a inflação está um pouco mais alta que no ano passado, mas só um pouco; pode acelerar, mas deve ser menor no segundo semestre. Vai daí que persiste a dúvida sobre até onde podem subir os juros americanos. Acrescente a essa história o outro risco envolvendo os Estados Unidos: o enorme déficit nas contas externas, equivalente hoje a 7% do Produto Interno Bruto, um número que derrubaria qualquer outro país. Isso dá o clima do momento: os EUA continuam em bom ritmo de crescimento, assim como o mundo, como notou a ata do Fed. Mas crescimento tão prolongado normalmente termina em inflação, e déficits externos tão altos normalmente terminam em recessão, na medida em que o devedor precisa conter seus gastos (consumo e investimento) para pagar suas dívidas. A história e a teoria se confirmarão? E, sobretudo, quando será o ajuste? Detalhe: vários países ricos saíram de buracos assim com recessão, mas os EUA já conseguiram se safar sem cair na recessão. E aí? Os participantes da festa notam que já apareceram alguns caras rodeando as caixas de champanhe. O que fazer? Continuar na festa ou tratar de ir para casa se preparar para a ressaca? Na dúvida, os investidores ora entram, ora saem dos mercados. De todo modo, o Brasil que se cuide. O grande momento parece ter passado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, junho 01, 2006
Fim de festa? - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
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