Estado
Onipotente, Lula ignora que o eleitor pode se cansar do papel de fava contada
No primeiro ano de governo, quando seus discursos ainda causavam espanto, o presidente Luiz Inácio da Silva disse que nada, "nem geada, terremoto, cara feia, Poder Judiciário ou Congresso Nacional", poderia impedi-lo de concluir as reformas necessárias para fazer o Brasil ocupar o merecido lugar de destaque no cenário internacional.
Manifestava ali os primeiros sinais do sentimento de onipotência que o acompanharia durante todo o mandato agora em vias de, segundo ele, terminar "apenas teoricamente". Lá no começo, Lula deixou evidente sua crença no próprio poder de governar acima das instituições e até das intempéries.
Não conseguiu seu intento; as reformas não foram concluídas e as aprovadas não foram postas em prática com os resultados prometidos. A Previdência continua onde sempre esteve, os tributos imersos na confusão de sempre, as parcerias público-privadas são letras mortas no papel, a estrutura sindical segue atrelada ao Estado, as modificações das leis trabalhistas nem chegaram a integrar o elenco das intenções, a reforma política não saiu do discurso, a paralisia e as soluções cosméticas das promessas nas áreas de segurança pública, saúde e educação dispensam apresentações.
O que há de positivo, a economia, não passou por reforma alguma. Ao contrário, resultou da continuidade diante da impossibilidade de concretizar a propagada "mudança".
Na política externa andou-se para trás, bem como na agricultura, cuja crise propicia uma situação artificial, por provisória (segundo o Ministério da Agricultura, com prazo de validade a ser vencido em 2008), de barateamento dos alimentos. Ampliaram-se os programas assistenciais existentes e, com eles, a legião de dependentes. De massas aptas à cidadania originada na produção, no emprego, na educação, na inclusão social propriamente dita, não se tem notícia.
Portanto, não ocorreu o imperativo do sucesso a ser alcançado contra tudo e contra todos. Houve, sim, um bem engendrado projeto de propaganda sustentado na concentração de gastos em período pré-eleitoral, na desfaçatez, na indiferença às leis, ao bom senso e ao decoro, que resulta em índices de popularidade robustos o suficiente para alimentar no presidente da República a certeza de que nada, nem ninguém, pode com ele.
Baseado nessa sensação, corroborada por todos os "formadores de opinião", é que Lula tem se comportado como se a campanha eleitoral fosse dispensável e que não houvesse lógica, realidade, contraditório nem discernimento capazes de alterar o cenário tão favorável que já lhe permite aconselhar a oposição a "aprender a perder".
O presidente já se considera reeleito. Pode ser que esteja mesmo. Mas pode ser que não venha a ser, pois as pessoas podem se cansar do papel de favas contadas que Lula reserva a elas. Em qualquer das hipóteses, sua conduta megalômana e depreciativa no tocante à insatisfação difusa não o ajudará. Nem a governar por mais quatro anos em ambiente de serenidade democrática nem a liderar a oposição na condição de bom perdedor.
A julgar pelas pesquisas, de fato o mandato de Lula termina em dezembro apenas "teoricamente". Mas, considerando que, às vezes, na prática a teoria é outra - como demonstrou a realidade em contradição à vanglória de que "nem geada, nem terremoto, nem cara feia, Poder Judiciário ou Congresso Nacional" impediriam o governo de fazer reformas e o Brasil de ocupar seu merecido lugar de destaque no cenário internacional -, conviria ao presidente um toque de comedimento.
Seja para amargar a derrota com altivez, seja para comemorar a vitória com o brio dos dignos dela.
Seriado
Da série "o silêncio dos indecentes", da qual fazem parte diversos e repetidos episódios em que o Parlamento trabalha na surdina em proveito próprio, o deputado Chico Alencar relata novo caso.
Há 11 dias, a Justiça derrubou liminar em ação popular impetrada em fevereiro pelo PSOL contra o pagamento da segunda parcela da convocação extraordinária, depois que esse tipo de benefício foi extinto pelo Congresso. As Mesas Diretoras do Senado e da Câmara, que haviam entrado com recurso acatado pela Justiça, nada comunicaram e, em silêncio, no dia 9 último, em pleno dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo, a Câmara depositou R$ 12.847,20 na conta de 407 deputados.
Isso sem que tenha sido julgado o mérito da ação. Os 106 parlamentares que recusaram o jetom e poderiam contestar o depósito (os que receberam, claro, como aponta Alencar, "fizeram boca-de-siri") só foram avisados dia 14, véspera do feriado.
O pagamento é legal. Mas que é questionável a legitimidade do gesto de os dirigentes do Congresso recorrerem à Justiça para garantir o pagamento de um privilégio que as Casas por eles dirigidas extinguiu e que ambos saudaram como um grande feito do Parlamento durante a convocação extraordinária de janeiro, quanto a isso não há dúvida.
Entrevista:O Estado inteligente
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