Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 02, 2006

A ameaça da Aids



EDITORIAL
O Globo
2/6/2006

Nos 25 anos que se passaram, desde que a Aids foi identificada, a doença matou 25 milhões de pessoas, ou um milhão por ano. Outros 50 milhões foram infectados pelo vírus HIV, sendo 4,1 milhões apenas no ano passado.

Não é um quadro que possa provocar otimismo. No entanto, o relatório anual do Programa de Aids da ONU (Unaids), divulgado esta semana, diagnostica favoravelmente a situação, porque, pela primeira vez, o número de novos casos começou a mostrar tendência de queda. Em 2003, para comparação, foram infectados 4,8 milhões.

Portanto, continua a crescer, e rapidamente, o número de vítimas da Aids; apenas o ritmo de aumento caiu e, presume-se, continuará a cair daqui para a frente. Obviamente, isso não basta para se falar em êxito na batalha contra a doença.

Há três frentes nessa guerra: esclarecimento, prevenção e tratamento. Todas as três exigem grande volume de recursos, seja para campanhas, seja para distribuição de preservativos, seja para o fornecimento de remédios que compõem o chamado coquetel. Nos três casos, pode-se falar em progresso, mas lento demais. Em 2005 foram gastos US$ 8,3 bilhões, e 1,3 milhão de pessoas tiveram acesso ao remédio, contra não mais do que 240 mil em 2001. O avanço, se é evidente, é também evidentemente muito pequeno.

Outros dados atestam a insuficiência do esforço. O governo dos EUA elevou sua contribuição para US$ 2,8 bilhões no ano passado (eram US$ 840 milhões em 2001), mas a legislação americana impõe que um terço do dinheiro gasto em prevenção seja aplicado em pouco mais do que irrelevantes campanhas de defesa de abstinência ou fidelidade sexual.

Há ainda diferenças críticas entre países. Na África do Sul e em Botswana, por exemplo, a epidemia continua a avançar; na Rússia, chega a contribuir para a preocupante queda na população. E a Índia, país mais afetado, já tem 5,7 milhões de soropositivos.

Acreditam os especialistas que o número de doentes pode começar a cair a partir de 2015. É sem dúvida uma perspectiva bem melhor do que a pandemia explosiva que se chegou a temer. Mas um esforço maior, concentrado e coordenado, poderia antecipar significativamente essa data.

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