Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 14, 2006

Os obstáculos de Alckmin

VEJA

A lenta arrancada de Alckmin

O candidato tucano custa a deslanchar
nas pesquisas de intenção de voto


Camila Pereira e Fábio Portela


Ilustração Baptistão



O ex-governador paulista Geraldo Alckmin esperava que seu desempenho nas pesquisas eleitorais melhorasse tão logo ele fosse indicado pelo PSDB como candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ele ainda não conseguiu arrancar. Pesquisas eleitorais divulgadas na semana passada pelos institutos Datafolha e Sensus mostram que o tucano está custando a sair do lugar. Alckmin continua com cerca de 20% das intenções de voto, metade do índice de Lula. Os especialistas em pesquisas eleitorais afirmam que ele precisa conquistar mais de 30% dos votos no primeiro turno para chegar ao segundo com chances reais de vencer a eleição. Em termos quantitativos, isso significa ganhar mais 12 milhões de eleitores, quase uma Minas Gerais inteira (o estado é o segundo maior colégio eleitoral do país). A tarefa não é impossível, mas está longe de ser fácil.

A dimensão do esforço que Alckmin terá de fazer pode ser avaliada por outras eleições presidenciais. Desde a redemocratização, houve quatro. Nelas, só uma vez o segundo colocado ultrapassou quem liderava as pesquisas nesta época do ano. A exceção aconteceu em 1994, em uma eleição atípica. Na ocasião, Fernando Henrique Cardoso, embalado pelos primeiros resultados do Plano Real, conseguiu superar Lula. O comando da campanha do PSDB e de seu aliado PFL contava com a crise do mensalão para reproduzir o efeito do Real. Mas, até agora, isso não ocorreu. E, mesmo se vier a acontecer, não se pode garantir que os votos migrem de Lula para Alckmin numa velocidade suficiente para garantir a eleição do tucano. O único dado positivo para Alckmin que emerge da análise das eleições anteriores é o fato de que é muito raro que um presidente seja eleito sem ganhar o pleito em São Paulo. A última vez que isso aconteceu foi há cinqüenta anos, com Juscelino Kubitschek. Depois de um governo bem avaliado, Alckmin leva vantagem sobre Lula no estado que tem o maior colégio eleitoral e é o mais rico do país.

Até o início da campanha, o patrimônio eleitoral de Alckmin em São Paulo parecia intocável. A imagem ética de sua gestão era seu maior trunfo. O PT alardeia, no entanto, que ele só passou incólume por seis anos de governo porque conseguiu impedir que a Assembléia Legislativa instalasse 67 CPIs contra o seu governo. É uma denúncia vazia. Mais da metade dessas CPIs deveriam investigar assuntos que nada têm a ver com a gestão Alckmin, como crimes de pedofilia e a poluição em São Paulo. Só 27 propunham investigar a administração tucana, e destas não mais que dez apresentavam algum dado objetivo para justificar as suspeitas. As acusações que atingiram a reputação do ex-governador nada têm a ver com as CPIs abortadas, mas com reportagens publicadas recentemente nos jornais. Nas últimas semanas, descobriu-se que sua mulher, Lu Alckmin, entupiu o guarda-roupa de vestidos caros "doados" por um estilista amigo. Alckmin também foi espetado com outra denúncia. Seu governo teria pago uma temporada de meditação no spa do acupunturista Jou Eel Jia para professores da rede estadual. O doutor Jia atende Alckmin e sua filha é sócia de Thomaz, o caçula do governador. Eles têm uma microempresa que fornece produtos ao spa do doutor Jia. Ou seja, o dinheiro usado para pagar a meditação dos professores pode ter caído na conta do filho do tucano.

Nenhum dos aliados de Alckmin está satisfeito com seu desempenho nas pesquisas. O candidato reconhece que não conseguiu impor sua agenda na campanha. "É inevitável que denúncias ganhem essa repercussão até o início da campanha na TV. Isso mudará quando começar o horário eleitoral", diz Alckmin. Para reverter o quadro, ele tem uma estratégia baseada na organização de seminários para divulgar seu plano de governo e um corpo-a-corpo no Nordeste, onde tem apenas 9% da preferência dos eleitores. O tucano acredita que essa agenda será suficiente para melhorar seu desempenho nas pesquisas até que ele possa usar o que considera seu grande trunfo: os programas eleitorais e comerciais do PSDB e do PFL que vão ao ar em junho. Até lá, Alckmin tem de correr.




Fotos Gladstone Campos, Marcos Rosa, Nelio Rodrigues, Antonio Ribeiro, Ricardo Stuckert, Monica Zarattini/AE, Ana Araujo

Arquivo do blog