Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 15, 2006

‘O povo está cansado de salvadores da pátria, que prometem milagres’


Tasso Jereissati, entrevista a O Globo (15/04/06)

Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA

O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), acha que ainda é cedo para cobrar resultados do candidato tucano à Presidência. A partir da estruturação de campanha e na medida em que conseguir expor suas propostas ao eleitor, Tasso aposta que Geraldo Alckmin pode chegar no início do horário eleitoral com um desempenho muito próximo ao do presidente Lula. Para isso, Tasso não acredita que seja necessário transformá-lo num "encantador de massas", mas apenas mostrar o patrimônio de administrador construído em quase 12 anos à frente do governo de São Paulo. Na sua opinião, "o povo está cansado de salvadores da pátria, que prometem milagres, se dizem anjos e santos, mas cuja imagem desmorona em menos de 24 horas".

O PSDB não esperava uma arrancada de Alckmin depois da confirmação de seu nome para a disputa presidencial?

TASSO JEREISSATI: A campanha não começou, nem a pré-campanha. Alckmin deixou o governo há pouco mais de dez dias. Não tivemos a oportunidade de organizar uma agenda de viagens para rodar o Brasil. Nossa expectativa é de que esse quadro possa começar a mudar quando a população tiver conhecimento e contato com nosso candidato e suas propostas. Sem horário eleitoral gratuito ou uma cobertura intensa da mídia, isso se fará de maneira lenta.

O partido vai fixar, por exemplo, uma meta de crescimento nas pesquisas até junho?

TASSO: É difícil estabelecer uma meta. A partir de agora Alckmin intensificará sua agenda de viagens, fazendo um corpo-a-corpo com o eleitor brasileiro. Ele também vai falar com os líderes do nosso partido e do PFL. Isso vai ajudá-lo na medida em que apresentar suas propostas, sua história. Tenho certeza de que, na medida que isso for entrando na alma do povo brasileiro, a intenção de voto dos eleitores vai começar a mudar também. Em quanto tempo isso vai ser alcançado é difícil prever. Tenho certeza que vamos chegar no início do horário eleitoral gratuito com as intenções de voto em favor de Alckmin muito próximas, quem sabe até empatando, com o presidente Lula.

A imagem do picolé de chuchu tende a desaparecer?

TASSO: Acho que o povo brasileiro está cansado de salvadores da pátria, que prometem resolver todos os problemas da noite para o dia, prometem milagres, que se dizem anjos e santos, mas cuja imagem desmorona em 24 horas. O discurso é uma coisa e prática é outra completamente diferente. E depois que assume o poder, pior do que não ter projeto, é ter uma prática completamente contraditória com sua história de oposição. As pessoas querem alguém sério, que tenha uma história de administração e compromisso com suas palavras. Não precisa ser um orador brilhante, um encantador de massas, mas ser um homem sério e competente. E é isso que estamos dando ao país.

Preocupam essas primeiras denúncias que atingem Alckmin? Isso não tira o discurso da ética que o PSDB pretende tomar para si?

TASSO: Não preocupam. Vamos apresentar um homem sério, que governou São Paulo por praticamente 12 anos e sua administração é inteiramente limpa e correta. Denúncias vão aparecer. Faz parte da campanha política brasileira. Todo candidato que se colocar nesse cenário vai ser objeto de denúncias, principalmente do PT. O PT fez isso a vida inteira, agora essa prática se voltou contra eles numa velocidade muito maior do que eles imaginavam. Eles fizeram por merecer isso. Mas nós estamos preparados para enfrentar de maneira tranqüila e transparente toda e qualquer denúncia que vier.

Se não houver uma mudança nesse quadro e as denúncias se agravarem, o PSDB pensa em trocar seu candidato?

TASSO: Isso não existe. Nosso candidato é Geraldo Alckmin. Não temos nenhuma angústia quanto ao seu crescimento. Temos a certeza que isso vai acontecer. Vamos com ele até o fim. Nós estamos nos organizando para alcançar a vitória. Do jeito que ele é, de uma maneira tranqüila, competente, sem atropelos, sem mentiras, sem criar factóides, sem escândalos.

O senhor prevê uma campanha muito dura, de ataques mútuos?

TASSO: Não tenho dúvida. Basta ver que há dois anos rolam denúncias graves contra o filho do presidente Lula. Nós da oposição temos tido o maior pudor em preservar a figura do filho de Lula, mesmo ele estando envolvido em questões públicas, achando que o envolvimento familiar era um limite que não deveríamos ultrapassar. O PT, pelo contrário. No primeiro segundo que lhes pareceu que uma simples lojinha de produtos naturais poderia oferecer a eles uma oportunidade de ferir a conduta do filho de Alckmin, eles não hesitaram em acusá-lo imediatamente. Imagine, se ele fosse aquinhoado com US$ 20 milhões por uma empresa concessionária de serviço público, o que esses homens já não teriam feito com esse rapaz. Não tenho dúvida que esse pessoal, pelo poder, já mostrou que está disposto a tudo.

Depois do escândalo do mensalão e do caixa dois que tipo de providência o PSDB pretende tomar para que sua campanha não seja questionada?

TASSO: Nós estamos começando a campanha buscando ser os mais rigorosos possível. A sede do partido tem servido de base para todos os movimentos da campanha de Alckmin e a sua movimentação não tem fugido um milímetro da legislação eleitoral. E assim vamos fazer até o fim da campanha. Nós achamos que é necessário que o próximo presidente da República, desde o primeiro dia da campanha, tenha um comportamento exemplar. Os desvios de conduta que o PT cometeu no governo e depois, para se justificar, fizeram crer ao país que isso era normal e que todo mundo faz, tiveram um péssimo efeito pedagógico. Deixam essa marca histórica ao país, que é pior do que a corrupção em si mesma. O próximo presidente tem de deixar uma marca ao contrário, de que vale a pena ser correto, vale a pena seguir a lei.

Isso significa que na próxima campanha não teremos mais Delúbios ou caixa dois?

TASSO: Nem Delúbio, nem caixa dois. Mesmo que isso signifique sacrifícios importantes no desempenho eleitoral. Espero que os outros partidos façam o mesmo, para que a gente tenha uma eleição de igual para igual. Mas o PT, que conta o respaldo da Presidência da República, parece que não se emendou até agora.

O senhor acha que vai ser fácil arrecadar dinheiro depois dessa crise?

TASSO: Fácil nunca é, mas nós precisamos de dinheiro. Vamos arrecadá-lo de forma legal e registrando tudo.

O PSDB já escolheu a principal bandeira que vai defender na eleição de outubro?

TASSO: Acho que o crescimento econômico é uma, depois que o país desperdiçou esses anos de ouro da economia mundial. Melhor distribuição desse crescimento é outra bandeira. Ética e educação também."Nosso candidato é Geraldo Alckmin. Não temos nenhuma angústia quanto ao seu crescimento. Temos a certeza que isso vai acontecer. Vamos com ele até o fim""Os desvios de conduta que o PT cometeu no governo e depois, para se justificar, fizeram crer ao país que isso era normal e que todo mundo faz, tiveram péssimo efeito pedagógico"

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