O GLOBO
BAKU. O senador Cristovam Buarque apresentou aqui no seminário da Academia da Latinidade uma proposta arrojada para substituir, a nível mundial, a utopia socialista que ruiu com o fim da União Soviética. Cristovam, anunciado como um provável candidato à Presidência da República pelo PDT, lançou a idéia de um programa mundial de educação, comandado pela Unesco, que permita tirar da exclusão social a imensa massa de pessoas que, não apenas nos países miseráveis como os africanos, como também em países ricos e emergentes, estão fora do sistema globalizado que privilegia os aspectos econômicos em detrimento do social.
Cristovam defendeu a tese de que hoje já não se pode separar os países em ricos e pobres, pois mesmo nos mais pobres dos países existem pessoas ricas, e não existe qualquer sistema econômico no mundo que previna a existência de pobres, mesmo no mais rico dos países. Portanto, seria preciso criar-se um novo cidadão do mundo, comprometido, em qualquer parte do planeta, com a melhoria da humanidade.
O senador brasileiro referiu-se ao pessimismo que toma conta do mundo sem utopias de nossos dias para sugerir, como tarefa de todos os homens de boa-vontade, a união em torno de uma nova utopia mundial que possa mobilizar as ações, especialmente da esquerda, que ficou sem discurso após o fim da experiência socialista.
Cristovam argumenta que a mudança do modelo econômico que prevalece no mundo globalizado é inviável, pois não existe qualquer modelo alternativo a ser testado. Mas seria possível, argumenta ele, substituir prioridades, colocando-se acima dos valores econômicos que hoje guiam os governos, uma visão humanista onde as questões sociais prevaleceriam.
Segundo sua análise, a derrubada do Muro de Berlim encerrou a fase da "cortina de ferro", mas o capitalismo no seu lugar erigiu três novas formas de "cortinas", impedindo que a vitória aparente do capitalismo fosse uma vitória de um ideal de civilização. Enquanto a "cortina de ferro" imaginada por Churchill se referia ao poder das armas do império soviético, a "cortina dourada" seria uma referência ao Rei Midas, que separaria os cidadãos do mundo de acordo com a renda e o acesso aos bens de consumo e aos serviços essenciais, mas destruindo a civilização.
A "cortina de petróleo" simbolizaria a sociedade de consumo e o capitalismo selvagem. E a "cortina de fogo", que separa na modernidade os que pensam de maneira diferente do pensamento oficial, que Cristovam identifica como o pensamento globalizante neoliberal. Questionado pelo sociólogo Alain Touraine sobre se esse "novo homem do mundo" não perderia suas características culturais, pasteurizando suas ações, o senador pedetista se mostrou convencido de que a sociedade globalizada é uma inevitabilidade, mas disse que o que é preciso evitar é a "macdonaldização" da vida, tomando emprestado um termo que fora usado em uma palestra anterior por um intelectual azeri, o professor de filosofia Vasim Mamedaliyev.
Para criar as condições favoráveis a esse novo cidadão do mundo, o senador Cristovam Buarque apresentou três premissas: abandonar o antropocentrismo arrogante da civilização ocidental para a criação de uma nova sociedade, em comunhão do homem com a natureza; abolir a separação social, quebrando o berço da iniquidade através da escola; e construir uma sociedade tolerante, aberta a novas idéias.
Para que essa nova sociedade possa deixar de ser apenas uma utopia substituta da outra, seria necessário um projeto global de educação para todas as crianças e adultos. Segundo Cristovam, a esquerda mundial teria que levantar essa bandeira, defendendo a universalização e a qualificação da educação em todo o mundo. Ele considera que esse projeto é mais factível do que foi o da abolição da escravatura no mundo, séculos atrás.
O sonho da universalização da educação Cristovam traz desde antes de se tornar ministro da Educação no primeiro ministério do governo Lula, quando propôs a criação de um ministério para cuidar apenas do ensino básico. Já então tinha a idéia de transformar o ensino básico em responsabilidade nacional, que continua sendo a base de um hipotético programa de governo, caso venha a se transformar em candidato do PDT à Presidência da República.
Em um documento intitulado "A nacionalização da educação", Cristovam defende a tese de "nacionalizar a responsabilidade, com descentralização gerencial e liberdade pedagógica". Para ele, nacionalizar "significa a responsabilidade da União com a educação pública das crianças", no que seria um pacto nacional pela educação. Para ele, a quebra do círculo vicioso da desigualdade só será conseguida quando houver igualdade nas oportunidades. Este, aliás, é o slogan que pretende adotar em uma eventual campanha presidencial. "A solução para a desigualdade está na garantia de uma educação básica pública nacionalizada. Porque só o Estado é capaz de universalizar a educação, e só a União é capaz de unificar a qualidade. Para eliminar a desigualdade social é preciso primeiro eliminar a desigualdade educacional", afirma Cristovam em seu documento.
Cristovam admitiu que seu projeto ainda não passa de um sonho, mas confessou-se um sonhador, e convidou todos a sonharem junto com ele.
Entrevista:O Estado inteligente
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