Nem sequer a vergonha, assassinada em algum lugar do passado, sepultada em algum trecho traiçoeiro do caminho. Provavelmente, na curva da mentira. Talvez no desvio do mensalão. Ou, quem sabe, naquele penhasco sempre impiedoso com os muito ingênuos e os espertos demais.
Antes do terremoto, os patrulheiros do PT se moviam agarrados ao estandarte da ética na política. Destruída a fantasia, restou a caricatura do que já era caricatural. Se ainda houvesse paciência, seria divertido ouvir os berros dos envelhecidos policiais mirins. Mas a paciência acabou. Não há tímpano que agüente a incelença do complô das elites, para o mantra do preconceito contra o pobre nordestino que venceu na vida.
Um candidato com perfil de estadista liquidaria o sonho da reeleição em três aparições na TV. Mas Lula tem sorte - e o Brasil não tem juízo. Mais de 500 anos depois da Descoberta, terá de optar entre o mato e a capoeira, a caatinga e o deserto, o pântano e a areia movediça, o risco familiar e o perigo ignorado, o comprovadamente ruim e o possivelmente péssimo. Manda o código do medo que se escolha o mal menor.
O primeiro escalão do governo do PT sempre esteve mais para Tabajara que para Barcelona. Nunca teve craque. Nenhum. O primeiro escalão do governo Lula é extraordinariamente bisonho. Quem nasceu com cara de Olaria não vira Barcelona em quatro anos. Ou em oito. Pode ser um consolo saber que dificilmente conseguirá piorar.
No primeiro mês de governo, o presidente chamava pelo prenome todos os ministros. Muitos eram velhos companheiros. Outros, recentes amigos de infância. No penúltimo semestre, Lula tentava decorar o nome dos recém-chegados. Mal sabe quem são. Talvez seja melhor não saber.
O time composto pelos melhores quadros do PT foi um desastre político e, administrativamente, não saiu do limbo dos medíocres. A roubalheira nocauteou os artilheiros da equipe. A incompetência resultou, entre outras proezas, no mais fraco desempenho econômico entre os países da América do Sul.
Mas Lula está feliz. E tem chances de reeleger-se.
É o Brasil.
Caros amigos
Os republicanos de Ribeirão não deixam o Chefe mentir em paz. Recolhido ao hospital dos companheiros inválidos, o ex-ministro da Fazenda ensaiava a continuação da opereta ''O mundo maravilhoso que Antonio Palocci criou'' quando foi interrompido - de novo - por Rogério Buratti. Os ensaios terão de recomeçar.
Buratti voltou ao palco para piorar sensivelmente a Semana Santa do estuprador de contas bancárias. Em entrevista à Folha de S. Paulo, declarou que o caseiro Francenildo Costa tem razão: Palocci apareceu mais de uma vez na mansão alugada em Brasília por lobistas amigos do ex-prefeito de Ribeirão Preto.
Expressão abobalhada de quem furtou mais do que pode guardar, jeitão de açougueiro que rouba no peso, Buratti implodiu, com meia dúzia de frases e alguns sorrisos, a versão penosamente costurada pelo Grande Irmão do presidente da República.
Conta outra, Palocci.
[13/ABR/2006]