"Leitores de VEJA escrevem para a
revista perplexos, achando impossível
que o ministro tenha escrito tamanha
barbaridade. Ele escreveu, sim"
A Justiça brasileira, instituição que zela pela igualdade de todos os brasileiros perante a lei, decidiu quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, aquele que derrubou o ministro Palocci. Parece piada, mas não é. A juíza Maria de Fátima Pessoa Costa, da 10ª Vara da Justiça Federal, entendeu que a polícia deve investigar a fundo a suspeita de que, ao receber 25 000 reais em sua conta bancária, o caseiro pode estar envolvido em "lavagem de dinheiro". O caseiro disse que o dinheiro veio de seu pai biológico, o pai biológico confirma e o rastreamento do dinheiro comprova que o trajeto foi esse mesmo. Mas façamos de conta que há uma montanha de dúvidas aí. Afinal, 25.000 reais na conta de quem ganha 700 reais, assim de repente, dá para soar o alarme.
Agora, a Justiça, por força da igualdade de todos diante da lei, deveria tomar algumas providências importantes.
Uma delas seria atender ao primeiro pedido que surgisse de quebra do sigilo bancário de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente. Afinal, Lulinha é formado em biologia, não exerce a profissão nem era filho de pai rico. Mas, bastou o pai virar presidente, a empresa de Lulinha recebeu 15 milhões de reais da Telemar, uma concessionária de serviço público. Lulinha, assim de repente, ficou milionário, recebeu rios de dinheiro em sua conta. Será que pode estar lavando dinheiro para a Telemar? Era o caso de investigar.
Outra boa providência seria autorizar a quebra do sigilo bancário de Paulo Okamotto, o amigo do presidente. Entre 2002 e 2004, ele conseguiu 24.800 reais para ajudar na campanha de Vicentinho, mais 26.000 reais para pagar uma dívida de Lurian, filha de Lula, e ainda 29.400 reais para saldar uma dívida do próprio presidente. De onde Okamotto tirou esse dinheiro, assim de repente? Será que pode estar lavando dinheiro de alguém? Seria da velha cúpula do PT, agora chamado de "organização criminosa"?
A Justiça já foi acionada duas vezes para quebrar o sigilo bancário de Okamotto. Negou ambas. Na última, quem assina o despacho é o ministro Cezar Peluso. Ele diz que a CPI dos Bingos, antes de pedir a quebra do sigilo bancário do amigo do presidente, deveria ter-lhe dado um prazo para explicar a origem do dinheiro. Será que, caso o pedido de quebra do sigilo do caseiro caísse nas mãos do ministro, ele recorreria ao mesmo argumento do prazo para se explicar? Cezar Peluso é o ministro que não deixou o caseiro se explicar para nada. É dele a decisão que impediu Francenildo de depor na CPI. E um dos argumentos do ministro apoiou-se na "condição cultural" do caseiro. O ministro achou que, devido à sua "condição cultural", o caseiro jamais poderia dizer se o dinheiro que circulava na mansão, aquela que Palocci nunca visitou, provinha de casas de bingo.
Desde que isso foi divulgado, leitores de VEJA escrevem para a revista perplexos, achando impossível que o ministro tenha escrito tamanha barbaridade. Aos perplexos, aqui vai o trecho literal: "Noutras palavras, seu depoimento (o do caseiro) em nada ajudaria a esclarecer ou a provar a suposição de que seria dinheiro oriundo de casas de jogo! E é o que se presume à condição cultural e ao próprio trabalho que a testemunha desempenharia no local apontado".
A Justiça é assim. Uma aqui, outra acolá.