"Será que esta semana vai mesmo terminar com a aprovação do voto do deputado Júlio Delgado no Conselho de Ética da Câmara, propondo a cassação do mandato de José Dirceu?
A reunião está marcada para amanhã, mas ainda precisa vencer alguns obstáculos. Primeiro, é preciso garantir quórum para abrir a sessão da Câmara dos Deputados. Isto porque a deputada Ângela Guadagnin, fiel e solitária escudeira de Dirceu, pediu vistas ao processo, e tem o direito de ficar com ele durante duas sessões do plenário. Uma aconteceu na tarde de terça-feira e espera-se que a segunda aconteça hoje.
Outro obstáculo são os advogados de defesa de Dirceu. Nunca se sabe o que eles podem aprontar junto ao Supremo Tribunal Federal. Mas é seu direito recorrer a todas as instâncias.
Parte do drama de José Dirceu reside justamente em sua própria biografia, cuidadosamente construída por ele mesmo ao longo dos anos. O líder estudantil da década de 60 foi sendo transformado em personagem de romance, em herói de aventuras nunca muito bem explicadas.
No PT, Dirceu foi ganhando o aparelho partidário, até dominá-lo por completo. Autoritário, centralizador, raramente uma decisão ou mesmo um mero papel circulava no partido sem sua autorização.
Truculento, passou como um trator por cima do PT do Rio de Janeiro, até que só restasse o grupo de Benedita e Jorge Bittar, aliados de Garotinho por determinação de Dirceu.
Ele transferiu para o governo Lula a imagem do Super Dirceu: aquele que sabia tudo a respeito de todos, o tempo todo. Por isso, não é crível que não soubesse das andanças de Delúbio Soares, que portava ternos e charutos cada vez mais caros.
Também não é crível que Dirceu não conhecesse a existência do carrão que Silvio Pereira ganhou de uma empresa que tem negócios com a Petrobrás. Assim como não é crível que não soubesse que seu assessor mais importante, seu braço direito na Casa Civil, Waldomiro Diniz, estava achacando um empresário de loterias.
Em suma, José Dirceu é prisioneiro da biografia que ele construiu para si mesmo.
Para muitos, ficou meio incompreensível a ingenuidade de José Dirceu, quando se associou a Roberto Jefferson e outros do mesmo calibre, para promover a engorda artificial das bancadas aliadas. Será que Dirceu se achava mais esperto do que esses grupos que canibalizam o Estado brasileiro há décadas?!
A imagem de desmemoriado, de humilde soldado do partido, de servidor fiel do presidente Lula, que Dirceu está tentando fazer passar, não combina com o José Dirceu de outros tempos. Um dos dois é falso. Talvez os dois."
Enviada por: Ricardo