O intocável ministro Antonio Palocci precisou de uma operação protetora urgente, a ele proporcionada com a colaboração dos senadores do PSDB e do PFL. Mas em que medida o intocável -o blindado, na linguagem dos jornalistas- se tornou mesmo vulnerável, ninguém pode dizer com veracidade. Por vários motivos, equivalentes em importância.
Um deles é o evidente cuidado de Lula em relação ao momento de Palocci. Nas referências propagandísticas à política econômica, Lula não citou nem uma só vez o nome de Palocci, desde o duplo depoimento de Rogério Buratti e Vladimir Poleto com referências ruins ao seu ministro como prefeito de Ribeirão Preto. Ficou claro que Lula não quis se comprometer com a pessoa, escaldado pelo sucedido com seu cheque em branco a Roberto Jefferson, com José Dirceu, Luiz Gushiken, José Genoino e com o seu protegido Delúbio Soares. A todos Lula deu cobertura pessoal -e depois teve de os relegar em seu próprio benefício.
Os repetidos silêncios à pessoa e ao nome de Palocci implicaram, no mínimo, a presunção de um risco. A reserva de quem não recusou a possibilidade de algum fundamento nas acusações apresentadas à CPI. Só nos últimos dois dias apareceu, sem origem esclarecida e sem data citada, a notícia de próximo pronunciamento de Lula em defesa de Palocci. Uma resposta às pressões dos aliados do ministro, inclusive ou sobretudo no jornalismo, indignados com a cautela de Lula. "O presidente está fazendo uma coisa horrorosa", queixava-se exaltada ontem, em seu comentário de rádio, a jornalista que em sua coluna de jornal já pedira até a demissão da ministra Dilma Rousseff, por tornar pública sua discordância com o projeto ainda mais arrochante de Palocci.
Outra dificuldade para confirmar-se, ou não, a vulnerabilidade de Palocci é o jornalismo: está em mais uma fase de liberalidade plena com a imaginação. Não em relação a denúncias, de volta há algum tempo. A nova fase refere-se ao noticiário corrente. Para dar um exemplo, lê-se que "o presidente está pensando" em tais e tais nomes para a possível substituição de Palocci. Os nomes estão ali, precisados. Nem uma só indicação factual, por precária que seja, de atribuição ou fundamento da notícia. Então, como é que um repórter penetra no pensamento do presidente? Nenhum leitor saberá, mas é o tipo de habilidade que o jornalismo tem demonstrado a cada dia. É maravilhoso, embora haja o inconveniente de impedir a compreensão de fatos, episódios e situações, como a de Palocci.
Para encerrar, que esse aqui é um jornalismo velho e entediado, sem a dinâmica brasiliense, para vislumbrar o momento real de Palocci há as dificuldades criadas pelo próprio Palocci. A operação de sua iniciativa, para ir ontem ao Senado e não ao agendado interrogatório na Câmara, mesmo que para aí falar de verbas da educação, foi um claro movimento de fuga. Primeiro, aos deputados que não perderiam a oportunidade de assediá-lo com perguntas e modos incisivos, o que não ocorreria no ambiente vetustamente colaborador dos senadores. Segundo, tentando obter, com referências no Senado às acusações que o atingem, uma espécie de habeas corpus político para tornar dispensável sua convocação pela CPI.
A operação de ontem foi uma fuga que não ajudou a clarear. E o fez menos ainda, quando Palocci quis passar a impressão oposta: "Vou contribuir com isso (as investigações das CPIs) o quanto for possível", "Não me furtarei, em qualquer instância que for, a prestar os esclarecimentos necessários", e por aí. Se é assim, a operação de ontem não se justificaria. Mas Palocci empenhou-se muito, ao PT e à Presidência, para efetivá-la como meio de evitar sua convocação por "qualquer instância que for" - o que nós outros chamamos simplesmente de CPI.
Entrevista:O Estado inteligente
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