FSP
Os registros jornalísticos e, depois, históricos fazem aos golpes de Estado vitoriosos a gentileza de não os chamar de golpes de Estado. Há nisso o reconhecimento, encoberto embora, de que algo de desleal e de crime político foi praticado pelos executores do golpe. A Proclamação da República, sob essa bela denominação, teve esquecida a sua natureza de golpe de Estado. Inaugurador da série prolífica, mas feita também de insucessos, que roteirizou a história brasileira no século 20.
A exceção mais completa ao tratamento generoso por jornalistas e historiadores foi o golpe de Estado que, também neste novembro, na sexta-feira 11, fez um aniversário marcante: 50 anos, espantosamente esquecidos por quase todos os jornais. E, no entanto, ao menos por uma peculiaridade esse golpe não merece ser esquecido: foi o caso raríssimo de um golpe militar em defesa da legalidade. Desmontou o golpe iminente contra a posse de Juscelino, repelida sob a liderança de Carlos Lacerda e seus seguidores militares por ter ocorrido com apoio (verdadeiro) do ilegalizado Partido Comunista.
Esse ficou denominado, desde o primeiro momento e para sempre, de "golpe do general Lott" -nome do ministro da Guerra que o desfechou. Não é extraordinária a inexistência de maior interesse dos historiadores brasileiros pelo "golpe do general Lott". Nem só de Juscelino se faz a história desse episódio. Como técnica de golpe de Estado, foi o mais bem feito em toda a vasta série brasileira, exemplar na originalidade do planejamento e da execução. E até em aspectos subsidiários: um estímulo surpreendente para a decisão de Lott, não incluído nas suas ou em outras narrativas, foi um editorial do "The New York Times" lembrando, contra toda a verdade histórica, a vocação dos militares brasileiros para a defesa da legalidade, então sob risco.
Não foi a única relação importante do "golpe do general Lott" com o jornalismo. Diretor, não havia muito tempo, de "Manchete", Otto Lara Resende foi ele próprio fazer uma entrevista com Lott sobre os acontecimentos ainda ferventes. Conversaram por quatro horas, em companhia do general Odylio Denis, planejador e executor do golpe. Conversar com Otto Lara era ouvir Otto Lara. À loquacidade deliciosamente compulsiva do entrevistador contrapunha-se a exigüidade de palavras dos dois generais, sobretudo do entrevistado. Apesar disso, Otto escreveu a mais longa entrevista publicada por "Manchete". E o fez sem anotações da conversa monologal.
O texto foi levado à aprovação prévia do entrevistado. Lott ficou encantado. Ali estavam suas idéias. Mas não seria verdadeiro se dissesse que ali estavam palavras suas. Otto deduziu-o, interpretou-o, verbalizou o general, dourando-o com loquacidade e estilo em que se pode notar até a presença colaboradora do velho Machado, com a adaptação às circunstâncias de uma ou outra frase sua. A entrevista fez tanto sucesso que se equiparou como assunto aos acontecimentos políticos imediatos. E entre eles figurava nada menos do que o cruzador "Tamandaré" navegando, um tanto às tontas entre Rio e Santos, levando a bordo Carlos Lacerda e o escrete do golpe em fuga disfarçada de resistência.
Em um de nossos retornos juntos, de reunião na Folha para o Rio, foi da entrevista que Otto e eu conversamos. Ou melhor, que Otto conversou e eu ouvi.
Entrevista:O Estado inteligente
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