Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 22, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Inferno astral

FSP
 BRASÍLIA - Esta semana não está nada fácil para Lula, cujos principais ministros, assessores e amigos fazem fila depondo no Congresso.
Começou com Palocci, que hoje deve ir a duas comissões e ser convocado para dar explicações sobre as denúncias de Ribeirão Preto na CPI dos Bingos.
Segue com Paulo Okamoto, amigo de Lula, que vai falar sobre empréstimos do PT ao agora presidente. E tem mais: José Dirceu pode ser cassado já amanhã, e Luiz Gushiken está para ser indiciado pela CPI dos Correios.
Não é nada, não é nada, são todos os homens do presidente atingidos por denúncias de aparelhamento do Estado, desvio de recursos públicos para campanhas, operações bancárias heterodoxas.
Ruim para o governo e especialmente para Lula, mas ruim também para a oposição. Por quê? Porque tudo que vira excesso dá uma volta de 180 graus e bate na testa de quem jogou. Como bumerangue.
É verdade que não foi a oposição quem criou nem mesmo denunciou as histórias todas contra Palocci, Dirceu, Gushiken. Mas, por certo, gostou e mandou ver. O resultado é que há tantas denúncias, tantos nomes, tantos órgãos, tanto dinheiro envolvido que, tudo somado, dá zero. Confunde, não chega a nada, zera o jogo.
Lula já foi enfraquecido no limite, e o PT, desmistificado. Tudo o que exceder essa dose pode virar trunfo dele na campanha de 2006. Ou, como disse Aécio Neves, que está longe do Congresso e tenta manter a cabeça fria: "Se tentarmos transformar Lula em ladrão, não vamos conseguir, vamos acabar transformando-o em vítima".
É tudo o que Lula quer: reviver o personagem humilde, o retirante, o líder sindical vítima das elites, da direita, dos arrogantes, dos eternos poderosos. Lula deixou de ser um mito e está sem discurso. Ao emparedar os homens do presidente, sem conclusões, a oposição pode estar ressuscitando o mito e, de quebra, lhe dando um bom discurso de campanha.

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